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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A direita vai ter uma pesada derrota e a CDU vai crescer

A maior parte dos inquéritos feitos ao sentido de voto dos portugueses tem falhas de credibilidade (representatividade das amostras) facilmente desmontáveis mas confirmam uma tendência que tem provocado uma irritação do PSD/CDS e do PS que lhes moldam as mensagens: nem o PSD/CDS nem o PS irão ter maioria absoluta, isto é, mais de 50% e nenhum intervalo de confiança dos resultados apresentados alterará tal constatação.
O PSD/CDS (não condigo dizer PàF, soa-me a estalada…) tenta meter medo aos eleitores, com as quebras de estabilidade governativa, perda de sinais positivos (?) no país possíveis graças aos sacrifícios (leia-se austeridade) que os portugueses fizeram (leia-se que lhe impuseram contra a sua vontade), fuga de investidores e quebras nos ratings feitos pelos fabricantes de crises.
Nesta campanha perdeu toda a vergonha, mentindo, fazendo trafulhice, fugindo à crítica do passado e ocultando o futuro que o habita. Paulo Portas alerta contra possíveis provocações de última hora. Helena Garrido, directora do DN, avisa-nos que o desemprego vai aumentar e nos temos de habituar a isso, como um elemento estrutural das economias…Na recta final entram os barões a defender entendimentos com o PS.
A derrota significativa que vão ter é um bom sinal para os portugueses e para a democracia.



O PS não foi claro no que o distinguia em termos de propostas eleitorais do PSD/CDS. E não me refiro a esta ou aquela mexida em indicadores pouco significantes.
Refiro-me às questões que decidem do futuro do país: atitude face ao euro e as voltas a dar para recuperar soberania e margem de manobra no que respeita ao crescimento da economia, reversão de privatizações, recuperação dos danos causados ao sistema educativo, ao serviço nacional de saúde e sistema de segurança social, progressiva mas significativa da melhoria de salários e pensões, da transformação de trabalho precário e efectivo, enfim, das condições de vida dos portugueses.
O PS veio de novo com a cassete do voto “útil”, com o “desperdiçar dos votos” nos partidos à sua esquerda e com os malandros que à esquerda atacam o PS. Mantendo concepções anticonstitucionais sobre sistemas de alternância que secundarizariam a igualdade das candidaturas, que negam a liberdade de voto, que revelam desconsideração pelos outros partidos à sua esquerda e pela liberdade de expressão. Partidos estes que não existem por acaso pois organizam correntes de opinião e aspirações de camadas sociais, que se não reconhecem no PS e o avaliam pelo que tem feito e não por mesquinhez. Pelo menos, o PCP tem um crédito de coerência e determinação que resultam de uma longa história de sacrifícios para que se atingisse um regime democrático com a existência de partidos. O PS conhece bem essa história.

No dia 4 votarei, como sempre, na CDU. Convido todos os meus amigos a concluírem as suas reflexões e a fazerem o mesmo.

sábado, 26 de setembro de 2015

Cette blessure, de Léo Ferré


Frase de fim-de-semana, por Jorge

"El camino de la juventud lleva toda una vida"

atribuída a Pablo Picasso

Diplomata da Arábia Saudita preside à Comissão de peritos da Comissão de Direitos Humanos da ONU

O representante da Arábia Saudita, país que é um dos piores do mundo no respeito pelos direitos humanos, foi nomeado para o Conselho de Direitos Humanos da ONU. Tal facto provocou imediatamente uma onda de críticas que denunciam a troca de direitos humanos por petróleo manchado de sangue.

Faisal bin Hassan Trad, embaixador da Arábia Saudita na ONU em Genebra, foi eleito presidente da equipa de peritos independentes no Conselho de Direitos Humanos da ONU, informou The Independent, citando a UN Watch, organização não-governamental (ONG) independente. 

O dirigente da ONG supõe que a designação pode ter sido um entendimento de bastidores depois de Riad apresentar um pedido de encabeçar o próprio conselho.
Também criticou os responsáveis norte-americanos e europeus por não expressarem a sua indignação com esta nomeação e apelou para que esta decisão seja cancelada.
Grupos de defesa dos direitos humanos têm criticado reiteradamente a Arábia Saudita pelas decapitações e chicotadas públicas, restrições da liberdade religiosa e de expressão, bem como discriminação sistemática das mulheres.
No mês passado, a Amnistia Internacional calculou que pelo menos 102 pessoas foram executadas nos primeiros seis meses de 2015, a maioria das quais por decapitação.
Esta nomeação foi classificada como escandalosa por muitas personalidades, incluindo a esposa do blogger saudita Raif Badawi que foi condenado a mil chicotadas por publicar artigos sobre a liberdade de expressão. Este passo, disse ela, mostra que “petróleo prevaleceu sobre os direitos humanos”.

O Conselho de Direitos Humanos tem como missão nomear peritos para definir os padrões de defesa da liberdade e informar sobre as suas violações em todas as regiões do mundo.
Como é se pode desempenhar desta missão um diplomata de um país onde as autoridades praticam a crucificação, a decapitação  e a flagelação de seres humanos? E que apoiam o Estado Islâmico e o Boko Haram em África. É um negócio de petróleo...
A França, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha poupam o grande produtor de petróleo.
 
Os seus aliados árabes fazem a ponte da coligação anti-xiita que bombardearam Iémen com todo o à-vontade. O Yemen de que os media não falam sempre  e que sofre centenas de civis mortos em ataques da Arábia Saudita.
E que não falam também de Ali Mohammed al-Nimr, oposicionista xiita condenado nos últimos dias à crucificação pelas autoridades de Riade.

O que as "apalpações" comparam e como se compararão os resultados em 4 de Outubro

A uma semana do acto eleitoral a coligação da direita bateu o recorde eleitoral das mentiras, falsificações e entrou na fase da ameaça do "ou nós ou a catástrofe "dêem-nos lá a  maioria absoluta se não os sacrifícios a que vos obrigamos não terão servido para nada"...
Com o evidente receio da derrota, a direita recorre a tudo.
As sondagens, "tendências" e outras "apalpações" da vontade que ainda não se manifestou, lá dão sinais de estonteante e contraditória vaga de pressão sobre essas vontades, de insistência no empate técnico e  de insinuação às deslocações de votos para repor o "arco da governação, desligadas dos temas e atitudes que, na realidade, se confrontam. Mas, fundamentalmente feridas de qualquer credibilidade pelas "técnicas" que utilizam.

Nas eleições de dia 4 devemos todos comparar os resultados com os obtidos há 4 anos atrás

PPD/PSD:
 
2159181
 
( 38,66%)
 
108
PS:
 
1566347
 
( 28,05%)
 
74
CDS-PP:
 
653888
 
( 11,71%)
 
24
PCP-PEV:
 
441147
 
( 7,90%)
 
16
B.E.:
 
288923
 
( 5,17%)
 
8
 

Desta eleição, resultou um governo PSD/CDS, com a seguinte arrumação de resultados eleitorais e de deputados, que passou a ter maioria parlamentar de apoio


                                       PPD/PSD+CDS/PP : 2803069   (50,36%)    132

                                                                  PS :  1566347  (28,05%)       74

                                                          PCP-PEV:  441147  (7,90%)          16

                                                                  BE  :   288923  (5,17%)            8
 
Até das "apalpações" feitas se verificam claramente duas coisas: a direita vai perder a maioria e ter um grande tombo e a CDU vai ter uma subida importante.
 
 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

"Paixão" por Mariza


Como é que eu hei-de apagar esta paixão?

Frase de fim-de-semana, por Jorge


"Any man can withstand adversity;
if you want to test his character,
give him power."
"Não é no aguentar a adversidade
que se testa o caráter de alguém,
é dando-lhe poder"
 Abraham Lincoln
16º presidente dos EUA,
1809-1865

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Não apagues o amor, por Viviane

Inapagável...

Algumas reflexões sobre a "crise" da imigração na Europa

 1. Sem aparente vontade para acolher os imigrantes económicos e refugiados de  guerra, o Conselho Europeu marca passo e, dia após dias, os países da UE erguem novos muros. Há dias o Parlamento Europeu rejeitou várias propostas do PCP que concretizava esse apoio. Apesar das certezas e das dúvidas que possam estar a montante da questão presente dos migrantes, havia que fazer face ao afluxo de imigrantes.Porque rejeitou o PE essas propostas?

2.  O José Goulão, jornalista que muito considero, referia há dias um documento dos serviços de informações militares austríacos, segundo o qual o afluxo de refugiados  não seria uma consequência acidental dos conflitos no Médio Oriente alargado e em África, mas um obectivo estratégico dos Estados Unidos. O pagamento exigido pelos traficantes de emigração económica clandestina a partir da Turquia era no início do ano de 10 mil dólares por pessoa. Nas vésperas do início da presente crise passou para 2 mil dólares. Quem pagou o diferencial? O Info Direkt, revista nacionalista austríaca, ligada aos meios militares, nada avança de concreto, mas na semana passada garantiu que foram os norte-americanos que organizaram os emigrantes na sua saída.

3.  Estes imigrantes não colocam problemas de identidade. Fazem falta nos países de origem. Na sua maior parte são imigrantes económicos, sendo cerca 30% os que fogem de guerras (nomeadamente sírios, afegãos e iraquianos). O controlo de identidade dos que se afirmam sírios por serem portadores de passaportes sírios é complicado na medida que não foram certificados pelos consulados da UE na Síria porque a UE simplesmente retiros os seus representantes deste país. Isso é agravado com o facto de haver uma prática anterior da Turquia de passar passaportes falsos sírios a terroristas para melhor entrarem na Síria e aí poderem ter o estatuto de "rebeldes".

4.  A Alemanha tem feito o papel de grande humanista por receber imigrantes sírios. Porém isto corresponde a necessidades objectivas da sua economia, em expansão que beneficia de profissionais com uma certa preparação a quem vai pagar menos que aos trabalhadores alemães, e a uma população envelhecida, bem como a uma ameaça futura aos valores das pensões.
Isso gera uma contração na xenofobia que com as restrições à integração tem sido uma das grandes características da Alemanha. Se bem que seja também verdade, como ontem  referiu no DN um imigrante há anos radicado na Alemanha que a designação ainda em uso de "alemães biológico" poderá esbater-se na medida em que hoje 30% das pessoas da Alemanha com idade inferior a 15 anos têm antecedentes de imigração, podendo funcionar como um seguro anti-racista e anti-segregacionista.
 
5.  Uma última questão que gostaria de colocar, por hoje, respeita à concentração que está a ser feita pelos media na consideração dos imigrantes como sírios e à utilização de imagens de destruição na Síria sem identificação dos responsáveis.
A NATO ferve a informação com estes acontecimentos. A Inglaterra e a França anunciaram a vontade de combater o Estado Islâmico, bombardeando a Síria (leia-se as tropas do regime sírio...). Por isso nos parecem acertados os novos passos que a Rússia dá para intervir contra os verdadeiros terroristas, armados pela Turquia com recursos ocidentais. Isso poderá pôr a NATO em sentido e obriga-la a castigar os terroristas, como aliás ficou previsto nos recentes acordos entre os EUA e o Irão, e a conter a "teoria do caos", que os ideólogos do Pentágono há uns anos prepararam para este tipo de situações, associada à imigração massiva, como forma de os EUA garantirem os seus jogos de guerra e domínio nestes territórios.
 

Maria Anadon, What a difference a day make


A vontade está a passar por aqui, e nós vamos dar a volta a isto no dia 4 de Outubro



 
Os portugueses passaram a conhecer melhor a CDU ao longo da pré-campanha e dos debates nas televisões e rádios. E terão ficado com a idéia de que a CDU, ao contrário da generalidade das outras foças políticas, se distingue também por não aparecer só nas eleições. Nestes 4 anos, dia após dia, dirigentes e activistas da CDU, estiveram com trabalhadores, moradores, pais, reformados e muitos outros sectores sociais particulares, em cada canto do país. Apoiando lutas, animando reflexões, perspectivando caminhos e aprendendo, sempre, com cada opinião ou experiência concreta.
Em resultado disso, a CDU vai aumentar a sua votação em 4 de Outubro.

Esta maneira de fazer política oferece confiança. As mulheres e homens da CDU são coerentes. Não são como outros políticos, de promessa fácil que logo não é cumprida. Têm comportamentos éticos no exercício de funções públicas e nas suas vidas profissionais e familiares. Isto não quer dizer que não haja noutros partidos quem assim seja mas a postura desses partidos, como escolas de formação e de atitudes é a da “carreira” política, da promiscuidade entre serviço público e interesses privados, do acesso ao” tacho” e boas remunerações no estado, como trampolim para empresas que beneficiam desses comportamentos no aparelho do estado.

O retirar do homem do centro da economia, como dizia há dias o Papa Francisco, é típico das opções que comandam dirigentes de muitos estados. O trabalho é continuamente desvalorizado, os multi-milionários crescem à medida que a precariedade e a pobreza avançam, as alavancas económicas do país são vendidas vendidas, enfraquecendo a soberania já tão desbaratada no desvario de um projecto dito europeu mas que nos arrasta para o abismo.

As propostas do PCP e da CDU vão em sentido contrário porque este povo e este país vão continuar. São ilusões dizem PSD, CDS e PS. Desilusões são as que se somam uma atrás da outra. E certo que é regra as contra-revoluções sucederem às revoluções mas a vontade está a passar por aqui, e nós vamos dar a volta a isto.

Vamos à campanha e a um grande resultado para a CDU!

domingo, 13 de setembro de 2015

Portugal na cauda da Europa do bem estar dos mais idosos

       





         Júlio Machado Vaz

    Portugal é o terceiro pior país da Europa Ocidental a assegurar o bem-estar social e económico das pessoas com 60 ou mais anos de idade, só à frente de Malta e ...Grécia, alcançando a 38.ª posição a nível mundial. Lusa/Sol.
    Os dados constam do Índice Global AgeWatch 2015, que classifica os países de acordo com o bem-estar social e económico das pessoas mais velhas, e que é realizado pela HelpAge, uma rede global que promove os direitos e as necessidades das mulheres e dos homens mais idosos.
    Entre os 96 países do mundo avaliados, Portugal aparece em 38.º lugar, ou seja, entre os quarenta melhores e acima do meio da tabela, mas quando a análise é feita tendo em conta os 19 países da Europa Ocidental, Portugal é remetido para a base da tabela, sendo o terceiro pior, só à frente de Malta e da Grécia.
    Os primeiros lugares, entre os países da Europa Ocidental, são ocupados pela Suíça, Noruega, Suécia e Alemanha, países que ocupam os mesmos lugares na tabela a nível mundial.
    Comparativamente com o Índice de 2014, Portugal cai uma posição, mas olhando para 2013 a queda é de quatro lugares.
    Por indicadores, o pior resultado de Portugal é em matéria de capacitação, que inclui o emprego e a educação entre as pessoas mais velhas, em que fica em 83.º lugar, quatro lugares abaixo da 79.ª posição conquistada em 2014.
    Para este lugar contribuem as elevadas taxas de desemprego, já que, segundo o relatório, dados recentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) mostram que Portugal tem a terceira taxa de desemprego mais elevada para os trabalhadores com idade entre os 55 e os 64 anos, chegando aos 13,5% em 2014, e só superando a Espanha e a Grécia.
    Por outro lado, a taxa de emprego entre os portugueses mais velhos está nos 46,9%, nove pontos percentuais abaixo da média para a região.
    Para além da capacitação, o Índice avalia os resultados em matéria de rendimentos, saúde e ambiente favorável e é neste último indicador que Portugal alcança o segundo pior resultado, com um 51.º lugar.
    Neste indicador, o relatório refere que a "proliferação" de lares ilegais "está a tornar-se um grave problema em Portugal", apontando para estimativas que dão conta de que cerca de 20 mil idosos vivem em 3 mil lares ilegais e para um estudo que diz haver mais de 39 mil idosos que vivem sozinhos ou isolados.
    Refere também o facto de o Governo ter reduzido as tarifas para os mais idosos nos transportes públicos ou de os idosos portugueses serem frequentemente vítimas de fraudes ou vários tipos de violência.
    Em matéria de saúde, Portugal consegue um 23.º lugar e aqui é referido que o setor da saúde continua a ser um pilar forte, que providencia serviços de qualidade e a preços razoáveis, com os quais a maior parte da população conta.
    "No entanto, as medidas de austeridade contribuíram para a deterioração (...) e um exemplo está nos doentes oncológicos de zonas rurais isoladas, que são forçados a parar o tratamento por causa dos cortes no orçamento da saúde para os transportes", refere.
    Segundo o Global AgeWatch 2015, aos 60 anos de idade, os portugueses têm a expectativa de viver mais 24 anos, 18 deles com saúde, e 86% das pessoas com mais de 50 anos sente que a sua vida tem sentido.
    A melhor posição que Portugal conseguiu foi no indicador Estabilidade no Rendimento, com um 11.ª posição, onde a população idosa portuguesa aparece descrita como tendo sido fortemente afetada pelas medidas de austeridade e como uma taxa de pobreza a rondar os 7,8% apesar de todas as pessoas com mais de 65 anos terem acesso a uma pensão.
    No global, a Suíça ocupa o primeiro lugar, enquanto o Afeganistão permanece no último lugar da tabela. Tal como em 2013 e em 2014, os 19 primeiros lugares são ocupados por países industrializados.

    Lusa/SOL

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Em 4 de Outubro votar para mudar de governo e de políticas


 
As reflexões que se seguem não são novas mas foram-me suscitadas a propósito de uma conversa com um cidadão, futuro eleitor no dia 4 (que espero que acabe por votar bem).

Os direitos sociais, económicos e culturais são três das vertentes da democracia tal como uma boa parte da esquerda a entende. Não foi sempre assim. A democracia foi encarada como o direito de propriedade pelo menos até ao final da 1ª Guerra Mundial, e quando muito como o direito de votar em eleições muito limitadas nas capacidades de eleger e ser eleito e no direito de propaganda política sem discriminações.

Por influência da Revolução Socialista de Outubro e de fortes movimentos sindicais e intelectuais nesse sentido, é que as vertentes sociais, económicas e culturais passaram a ser consideradas no mundo capitalista, e ainda assim de forma limitada. A liberdade económica que começara por ser o direito mercantil da burguesia, acabou por ser uma livre concorrência, em que esta era condicionada pela concentração capitalista, financeira e monopolista, e mais tarde se alienou na especulação crescente que retirou o homem e a economia do centro da vida dos países capitalistas, para dar lugar à especulação bolsista. A liberdade sindical foi exercida e suportada por fortes lutas de classe. A liberdade cultural tornou possível, para além de novas expressões da cultura popular, o consumo, de forma diferenciada, de acordo com as classes sociais. A liberdade política passou a existir não apenas em eleições mas na capacidade, conquistada a pulso, da existência permanente de associações, e nos movimentos de direitos das mulheres.

A 2ª Guerra Mundial consolidou essas vertentes da liberdade pela observação de como elas eram progressivamente realizadas de forma progressista na nova Europa socialista de leste. Os dois blocos entraram numa emulação nem sempre positiva mas que colocaram o campo socialista, entretanto alargado à China e a Cuba e mais tarde ao Vietname, numa posição cimeira em diversos planos da vida internacional.

O peso das ideias de esquerda na vida cultural, as diversas vertentes da liberdade, a luta contra o fascismo, a consolidação e apuramento ideológico dos sindicatos, um longo período de paz assente na coexistência pacífica e na contenção na corrida aos armamentos, a consolidação de empresas de dimensões diversas, a criação do Estado Social, assente nas funções sociais do Estado, com destaque para o Ensino, a Saúde e a Segurança Social públicas. As descolonizações sucederam-se. O Programa do MFA de 1974 e a Constituição de República de 1976 expressam bem essa dinâmica de novas realidades.

Depois da derrocada do socialismo a leste, Hayek, patriarca do neoliberalismo, alertou para o facto de que a teorização e a presença no Ocidente destes direitos remetiam à influência, por ele considerada nefasta, da "revolução marxista russa".

Ele sabia o que estava a dizer como o sabiam outros que lhe executaram as ideias como Ronald Reagan, Margaret Thatcher, João Paulo II (depois da estranha morte do antecessor).

As guerras regressaram em força deslocando milhões de pessoas no planeta.

O significado histórico da Revolução Russa de 1917 é hoje recuperado ao longo deste mesmo planeta, mesmo que as pessoas já não relacionem as conquistas civilizacionais que, em parte se mantêm e fazem parte da estrutura mental de muita gente, nomeadamente entre a juventude.

Só recearia o futuro se perdesse as minhas raízes, todo esse capital histórico e não tivesse uma grande confiança nas mais jovens gerações.

Votação do Parlamento Europeu sobre o direito à água


 
Na sequência da iniciativa cidadã sobre o direito à água, o MUSP congratula-se com  a  expressiva  votação  do  Parlamento  Europeu,  que  decidiu  de  forma inequívoca  -  com  363  votos  a  favor  e  96  contra  -  exigir  à  comissão  europeia que legisle sobre o direito à água.
Esta decisão que surge também na sequência da decisão das Nações Unidas de declararem  o  acesso  à  água  como  um  direito  humano,  vem  dar  uma  nova esperança  a  todos  aqueles  que  defendem  o  direito  à  água  e  o  seu  acesso universal.
Sabemos  que  esta  vitória  ainda  não  é  uma  vitória  plena  que  permita  a reversão  dos  processos  de  privatização  de  serviços  de  abastecimento,  mas  é um grande passo nesse sentido.
O acesso à água definido como uma direito universal, reforça a ideia há muito defendida  pelo  movimento  de  que  a  água  não  pode  ser  entendida  com  um  bem comercializável, mas sim como um direito fundamental e um bem escasso que importa preservar.
Desta  forma  o  movimento  gostaria  de  ver  este  assunto  discutido  na  campanha eleitoral  e programas  eleitorais,  definindo  as  diversas  forças  políticas  de forma  clara  a  sua  posição,  sendo  que  o  MUSP  defende  o  voto  nas  forças politicas que, de forma inequívoca, façam a defesa dos serviços públicos.
Este é o momento para todos serem claros em matéria de serviços públicos. É o  momento  para  se  assumirem  posições  em  matérias  que  definem  o  nosso presente futuro coletivo. A água é uma dessas matérias.
Esperamos que as diversas forças politicas esclareçam a sua posição.
 
Lisboa, 9 de Setembro de 2015

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Discussion is an exchange of knowledge;
argument an exchange of ignorance."
"O debate é uma partilha de conhecimento,
a disputa é uma partilha de ignorância"

Robert Quillen
jornalista e humorista americano
1887-1948)

Um debate ausente do País



Não foi com gosto que segui o debate “que poderia mudar o futuro do país”, segundo alguns media, que quase saturaram a paciência dos portugueses com o antes, o durante e o depois, com Sócrates e Macedo à mistura.

Como se percebeu o País não passou por ali.

Teria gostado que neste e noutros debates e entrevistas se tivesse discorrido com o que considero serem as questões sobre as quais diferentes respostas mais interessam aos portugueses saturados de mentiras e trejeitos.

A saber, como combater o desemprego e a desvalorização abissal do trabalho na distribuição do rendimento.

Que fazer com os vínculos à União Europeia que nos retiraram grande parte da soberania e “institucionalizaram” opções neo- liberais na economia que foram liquidando o tecido produtivo, castrando a resposta a uma mais desejável que nunca procura interna.

Como diminuir as desigualdades sociais, a precarização dos trabalhadores e classes médias e como elevar, e com que recursos que estão disponíveis noutras opções políticas, as condições de vida.

Que atitude relativamente ao curso destruidor do Serviço Nacional de Saúde, do sistema público e ensino e da segurança social, pilares de um estado que se queira moderno, deve ser tomada e não se esgote nos ridículos e perigosos “plafonamentos horizontais e verticais”.

Face ao surto migratório pela fuga a diversas guerras de agressão a populações inteiras, que formas de acolhimento dos novos imigrantes e que iniciativas se devem tomar para fazer regressar a paz aos países de onde emigraram, que apoios internacionais à reconstrução e reactivação económica desses países - seriam questões de que os portugueses também teriam gostado de que se falasse.

Não alinho na estória de qual ganhou com o debate porque os portugueses não ganharam com ele. Estar mais agressivo, ao ataque ou à defesa, ter ou não ter rugas na testa, aludirem a programas eleitorais, de que pouco falaram, são matérias muito interessantes para comentadores mas não para País que não passou por ali.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

"E depois do adeus", Grande Reportagem, do jornalista Pedro Coelho (RTP-1)

Acabei de o ver agora. Estes programas confirmam-nos que há jornalistas na RTP sensíveis ao que se passa à sua volta.
Partindo do tema "E depois do adeus", da troika entenda-se, sucederam-se uma série de casos de dificuldades graves de pequenos agrupamentos familiares, bolsas de resistência à agressão social generalizada que promoveu este governo. Os casos eram intervalados por declarações emproadas de Passos Coelho que em tudo contrariavam o que nos era dado a ver.
No meio da imensa porcaria com que a RTP enche os seus canais, estas excepções reconciliam-nos com o jornalismo.
Parabéns Pedro Coelho.
 

Pintura de Michel Rauscher e poema de Dina Salústio



Éramos tu e eu
Éramos eu e tu
Dentro de mim
Centenas de fantasmas compunham o espectáculo
E o medo
Todo o medo do mundo em câmara lenta nos meus olhos.
Mãos agarradas
Pulsos acariciados
Um afago nas faces.
Éramos tu e eu
Dentro de nós
Suores inundavam os olhos
Alagavam lençóis
Corriam para o mar.
As unhas revoltam-se e ferem a carne que as abriga.
Éramos tu e eu
Dentro de nós.
As contracções cada vez mais rápidas
O descontrolo
A emoção
A ciência atenta
O oxigénio
A mão amiga
De repente a grande urgência
A Hora
A Violência
Éramos nós libertando-nos de nós.
É nossa a dor.
São nossos o sangue e as águas
O grito é nosso
A vida é tua
O filho é meu.
Os lábios esquecem o riso
Os olhos a luz
O corpo a dor.
A exaustão total
O correr do pano
O fim do parto.
Dina Salústio

domingo, 6 de setembro de 2015

Quantos refugiados vão estes receber em suas casas?

 
É uma pergunta oportuna a fazer a cada um deles, que participaram na cimeira, mãe de todas as guerras que, a partir de então, mataram muitas centenas de milhar de pessoas, destruíram sociedades organizadas, arrasaram residências, provocaram um dos maiores êxodos na Europa.
O Tribunal Penal Internacional não devia ficar alheio a estes crimes e aos seus autores materiais e morais.

sábado, 5 de setembro de 2015

Frase de fim-de-semana, por Jorge

“O, what may man within him hide,
Though angel on the outward side!”

"Quanta baixeza se abriga
em feição serena e amiga!"

W. Shakespeare
em Medida por Medida (ato 3, cena 2)
trad. Nélson Jahr Garcia 
Eds. Ridendo Castigat Mores)

Banhista sentada à beira mar, de Picasso (1930)


Na sua primeira noite, a Festa levou-nos ao cinema, com a Orquestra Sinfonietta de Lisboa


A noite estava fresca mas, a partir do primeiro tema da "Odisseia do Espaço", "Assim falava Zaratustra, de Richard Strauss, os corações aqueceram e foram milhares que em pé, agarrados, sentados e deitados, vibraram  coma recordação da "Odisseia do Espaço", que Stanley Kubrick realizou em 1968.
Seguiram-se mais 12 temas de filmes que ficaram na nossa memória, e aos quais por vezes regressamos.
A Orquestra Sinfonietta de Lisboa foi dirigida pelo Maestro Vasco Pearce de Azevedo. O pianista António Rosado, interpretou, com a Orquestra, o Concerto de Varsóvia, de Richard Addinsel, tema do filme "Aquela noite em Varsóvia", realizado por Brian Desmond Hurst, em 1941.
Bom, depois foi o final feérico da noite com um belo fogo de artifício.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Os EUA e a vaga migratória na Europa


A vaga migratória actual, recheada de episódios dramáticos e de terror, de incapacidade da União Europeia e os países mais ricos assumirem as suas responsabilidades, exige medidas imediatas que não podem esperar pela cimeira da UE de daqui a duas semanas, impondo-se com urgência

- O acolhimento que aloje, conforte e dê condições dignas aos milhares de seres humanos que acorrem às portas da União Europeia fugindo da guerra que esta mesma UE ajudou e ajuda a fomentar;
- Medidas de apoio ao desenvolvimento dos países do norte de África atingidos pela guerra, parando o apoio à guerra e apelando ao diálogo e a uma solução política para as crises.

 Mas os EUA e a NATO, a Arábia Saudita, Israel e grupos terroristas que criaram e apoiam são os responsáveis não só pelas chacinas directas mas também pela emigração que parte das costas da Líbia, organizada por traficantes, que  espoliam os que fogem e os despacham sem condições. Essa mesma canalha que o “Ocidente” apoiou para assassinar Kadhafi e transformar em ruínas um país que tinha um avançado estado moderno para a generalidade dos países da região.

Talibans, Jihadistas, Al-Qaeda, Irmandade Islâmica, Daesh, Estado Islâmico, “rebeldes sírios”, Boko Haram são nomes, que se converteram uns nos outros em alguns casos, que recrutaram mercenários para pôr a ferro e fogo países como a Síria, o Iraque, o Egipto, a nação curda, o Donbass, a Nigéria, o Sudão do Sul, a Somália, o Iémen. Os que fugiram e agora correm para os países mais ricos da Europa, através de Itália, Grécia, Turquia, envolvendo os restantes países balcânicos e da Europa Central. Estes assassinos foram criados pelos EUA, têm apoios logístico, de formação militar, de armamento, de inteligência militar fornecidos pela Arábia Saudita, Israel e a Turquia.

A hipocrisia do invocado combate norte-americano e turco em bombardeamentos contra o Estado Islâmico está desmascarado. Os voos, a partir de bases turcas, destinam-se a massacrar o PKK e as populações curdas.
De acordo com um relatório do ACNUR, 60 milhões de pessoas foram deslocadas à força no final de 2014. Em termos globais uma em cada 122 pessoas são requerentes de asilo, refugiados ou pessoas deslocadas internamente. Mais de metade dos refugiados do mundo são crianças.

Em 28 de Agosto deste ano, o Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) disse que mais de 300 mil refugiados e requerentes de asilo cruzaram o Mediterrâneo para chegar à Europa até agora neste ano – um número muito superior em 219 mil ao valor de 2014. Uma enchente humana que se pode aproximar de meio milhão no final do ano, provavelmente centenas de milhares mais em 2016, podendo o êxodo continuar nos anos seguintes.

Milhares de outros morrem ou são dados como desaparecidos. Em 27 de agosto, centenas podem ter morrido depois de duas embarcações sobrelotadas ter naufragado ao largo da costa da Líbia. Dezenas de refugiados sírios foram encontrados sufocados até a morte num camião estacionado numa estrada austríaca, já com os seus corpos em estado de decomposição. Outras histórias de horror repetem-se com regularidade preocupante.

Os EUA devem pagar as consequências das suas guerras no mundo!


A agenda dos EUA não passa pela resolução das crises nem pela Paz. Até na actual corrida presidencial norte-americana, todos os candidatos se apresentam como guerreiros imperiais – nenhum deles é defensor da paz e da estabilidade. E, portanto, depois de Obama, as coisas continuarão como dantes ou com tendências de agravamento, tanto mais se se desenvolver o belicismo contra a Rússia e a China.





Ilustração de Maria Keil


As razões da China


A China enfrenta desafios muito importantes  depois de nos últimos anos ter realizado reformas que fizeram o país passar de uma economia,  baseada num modelo de acumulação assente em investimentos maciços, para outra que favoreceu a expansão do investimento no mercado interno e o consumo pelos seus habitantes
O Partido Comunista da China definiu como objectivo de longo prazo o aumento do consumo da população e do seu poder de compra quer pelo aumento geral dos salários quer reduzindo a concentração das poupanças. O objectivo tornou-se mais urgente com a contração do investimento das empresas e a quebra da procura externa.












Segundo o Telegraph, há duas semanas atrás,  China tinha já diminuído as exportações em 8,3% em termos anuais, o mesmo se passando com as importações em 8,1%., em linha com o enfraquecimento do comércio mundial, que atingiu o nível mais baixo nos últimos anos. Antes disso foram muitos os comentadores que reconheceram a importância da China para conter a queda da economia mundial.
Mas a China pagou também um preço por isso e começaram a crescer no seu seio as preocupações com as perspectivas mundiais poderem levar a uma deflação generalizada (baixa dos preços típica das recessões) .
Segundo um despacho da Reuters de 7 de Agosto crise deflacionista ia na Grécia, ia já no 29º mês consecutiva com os riscos de contágio que isso provocava à periferia europeia. O novo plano de « ajustamentos » imposto a este país irá agravar a catástrofe e a  Alemanha,, principal impulsionador do garrote à Grécia, poderá ficar também com as barbas a arder. Os chineses não podem ignorar que a Alemanha é o quarto parceiro económico da China e Pequim está a trabalhar arduamente para contrariar as tendências recessivas que gradualmente se aproximam da sua economia e que também, diga-se de passagem, causam preocupações num número crescente de países como a Alemanha, a Inglaterra, o Canadá e países da América Latina como a Venezuela, o Brasil, o México ou a Argentina.
 
A China defronta um outro risco resultante das pressões norte-americanas sobre os bancos centrais da Ásia Pacífico, para uma guerra de divisas, como referiu o New Iork Times na sua edição de 17 do mês passado, levando esses bancos a desvalorizações que « empobrececem-se » a China. E para por em causa os seus convites, até agora feitos com sucesso, para lançar o Banco Asiático de Investimentos em Infraestruturas, o Fundo da Rota da Seda e a Zona de Comércio Livre da Ásia-Pacífico. Segundo o Foreign Policy, do passado dia 11, essas pressões norte-americanas são acompanhadas de pedidos dos EUA a esses países para que alarguem o campo de aplicação  do "Parceria Trans-Pacífico", com vista a relançar a guerra ideológica contra a China, com o apoio militar do Japão.
 
A China tem que ter em conta que na região também se fazem sentir pressões deflacionistas e que a desvalorização do yuan não é aí bem acolhida, atingindo em particular a Coreia do Sul, Malásia, Singapura e Tailândia.
O economista Ariel Noyola Rodriguez avisa ainda, em artigo recente no voltairenet.org http://www.voltairenet.org/ que « ninguém duvide que se trata dum plano dos EUA para impedir a crescente influência da China na Ásia-Pacífico, devendo o governo chinês manter-se vigilante e, acima de tudo, ter em conta as lições do grande Sun Tzu, autor da « Arte da guerra », de que se pode obter uma vitória, não entrando na guerra.
A China tem que ter em conta que na região também se fazem sentir pressões deflacionistas e que a desvalorização do yuan não é aí bem acolhida, atingindo em particular a Coreia do Sul, Malásia, Singapura e Tailândia.
 
O papel da China para a economia mundial é cada vez mais importante. Nela se depositam muitas esperanças para acabar com o ciclo infernal de ser a economia mundial a pagar os custos das guerras conduzidas pelos EUA, no passado e hoje, de forma mais generalizada, com a possibilidade de a Fed estar permanentemente a emitir dinheiro para o efeito, que não resulta da actividade económica, mas que por deter a divisa mundial de referência, faz repercutir nas outras economias "bolhas", como a do Lehman Brothers, que a União Europeia recebeu acrìticamente e aceitou que atingisse os países de economias mais débeis, como Portugal que, de forma quase criminosa foram arrastados para o euro pelos seus governos que lhes impuseram programas de austeridade severos. Este carácter acrítico (logo conivente) estende-se à responsabilidade do presente surto migratório, decorrente das guerras que conduz, através da Arábia Saudita e Israel, bem como dos grupos terroristas que, a seu mando actuam no Médio Oriente e em África. A este tema do surto migratório voltaremos.