Número total de visualizações de páginas

domingo, 24 de abril de 2016

Obama diz que Merkl “é a guardiã da Europa” mas há contradições à solta...


O Ministro da Economia alemão e número dois do governo, Sigmar Gabriel, na véspera da chegada hoje a Hanover de Obama, alertou-o para que pode não haver acordo sobre o TTIP. Também ontem mais de 35 mil manifestantes se opuseram ao TTIP nesta cidade. Já no passado dia 14, François Hollande tinha falado em termos semelhantes. Ao aterrar em Hanover Obama chamou a Merkl “guardiã da Europa” e elogiou os esforços alemães em receber refugiados, referindo a “coragem” de Merkl no acordo com o regime ditatorial da Turquia. E aproveitou para “pôr os britânicos na ordem”, dizendo-lhes que se fossem para o brexit, no referendo de Junho, ficariam em “último lugar” nas negociações com os EU. Não sei o que Hollande e Cameron sentiram na alma se ainda lhes resta alguma ou se viraram cepos de todo…
Obama declarou no início da semana anterior ao alemão Bild Zeitung que sendo certo que há tensões entre o sul e o norte da Europa, mais fortes são as tensões no leste europeu com a “agressividade” da Rússia. E referiu que a senhora Merkl tinha “falado na nossa obrigação moral para com o povo, incluindo as famílias e as crianças, sofrendo condições horrorosas, como a do regime de Assad na Síria ou a do Daesh”…
Amanhã Obama terá uima reunião com os dirigentes da Alemanha, França, Inglaterra e Itália sobre o TTIP mas não só.

Para além das acusações alemãs sobre a não suficiente abertura do mercado norte-americano ao comércio e serviços dos grandes europeus, a que nos referiremos adiante, o que importa sublinhar é que para esta 13ª ronda de negociações, a começar amanhã em Berlim, ambos os países se reservam o papel de grandes interlocutores “europeus” num dos mais sigilosos tratados inter-imperialistas até hoje negociados, e que teria as mais graves consequências para as economias e para as condições de vida e soberania dos povos da Europa.

O “le Monde” do passado dia 20 deixava claro o que sobre a matéria se pensa no governo francês “ Paris não teria nada a perder em deixar as negociações que lhe não são favoráveis mas teria tudo a ganhar no plano político ao denunciar um acordo cada vez mais impopular na Europa e na França.” Para este jornal, atacar o TTIP não requer considerável coragem política. A contestação contra ele sobe em vários países que prevê baixar as barreiras aduaneiras nos dois lados do Atlântico, mas também garantir uma forma de convergência da regulamentação e padrões na indústria e nos serviços (incluindo a banca, digo eu). “
Na Holanda, esta contestação poderá levar mesmo à convocação de um referendo sobre o assunto.
Segundo a imprensa portuguesa, o Ministro da Economia alemão referiu que os americanos não querem abrir os seus concursos públicos às empresas na Europa. Isto é o oposto do livre comércio, na minha opinião", e se os americanos mantêm esta posição, não é necessário um tratado de livre comércio e o TTIP irá falhar.

Os grandes capitalistas dos dois lados do Atlântico salivam com a criação de uma grande área de livre comércio e investimento entre os dois blocos, que juntos representam quase metade do Produto Interno Bruto mundial e um mercado de 800 milhões de pessoas. Esta área abarcaria mais de um terço do comércio mundial.

A liberalização do comércio internacional tem vários objectivos : a redução dos custos unitários do trabalho e o consequente aumento da taxa de exploração; e o alargamento do campo onde se pode exercer o processo de acumulação capitalista, com o avanço do mercado sobre cada vez mais esferas da vida económica, social e cultural; o condicionamento das trocas com outros países do mundo, nomeadamente daqueles que foram adquirindo particulares capacidades para concorrer com as economias da UE e dos EUA e em termos menos hegemónicos e conflituantes com terceiros; a liquidação por esta via dos BRICS e das perspectivas que estes auspiciavam de um menor influência negativa do dólar e do Banco Mundial; e a redução ainda maior do que resta das soberanias dos mais pequenos estados europeus que seriam cilindradas pelo acordo.

Este acordo já esteve previsto ser assinado no final do ano passado mas a contestação popular e as contradições reais entre as partes não o permitiram. As mudanças próximas de inquilino na Casa Branca não alterarão substancialmente os dados do jogo. No início das primárias Donald Trump não sabia (literalmente) o que era o acordo e Hillary Cinton, ferrenha atlantista” designava-o como a “ NATO da economia”…Bernie Sanders opunha-se a ele.

Os interesses dos grandes grupos falam mais alto e há uma urgência das potências europeias e norte-.americana de saírem da estagnação económica com crescimento insignificante que é reflexo da crise de sobre-produção e de sobre-acumulação do capital. Como dizia o eurodeputado comunista João Ferreira no início deste ano, “ o inaudito grau de concentração e de centralização do capital conduz a novas necessidades e exigências. Os monopólios americanos e europeus, que nos respectivos espaços de integração económica foram colonizando mercados, do centro às periferias, precisam de novos instrumentos para satisfazer os seus interesses, a sua pulsão imperial, as suas taxas de lucro”. Um delas é a presente ofensiva para a conquista de mercados através do TTIP. Outra é a guerra com a generalização das já existentes no Médio Oriente e em África aí e estendendo-as a outras partes do mundo. E a saída delas dos EUA com um novo plano Marshall alargado.