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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Ana Alcaide em "Luna sefardita", gravada em Samarcanda


Khadafi foi assim tão cruel para com o seu povo?, citação da revista suiça Schweizmagazin

Hoje a Líbia está em parte destruída e é dominada por grupos de bandidos, traficantes de petróleo e de seres humanos, com condições de vida muito inferiores às da primeira década deste século.

Segue-se uma lista das "atrocidades" que os líbios sofreram durante 4 décadas, segundo artigo desta revista em 2011.

1. Não havia factura de electricidade na Líbia. A eletricidade era grátis para todos os cidadãos.

2. Não havia juros sobre empréstimos bancários. Por força da lei, os bancos do estado garantiam a todos os cidadãos empréstimos sem juros.

3. Ter uma casa própria era considerado um direito humano na Líbia.

4. Todos os recém-casados na Líbia recebiam 50.000 dólares. Este dinheiro devia permitir que as pessoas comprassem o seu primeiro apartamento. O governo queria, assim, contribuir para o início de uma nova família.

5. A Educação e Saúde eram gratuitas na Líbia. Antes de Khadafi chegar ao poder apenas 25 por cento dos líbios sabia lêr. Na actualidade, o número era de 83 por cento.

6. Os líbios que quizessem fazer carreira profissional na agricultura, recebiam terras aráveis, uma casa, equipamentos, sementes e gado grátis para um início rápido das suas fazendas e tudo o que a elas respeitava.

7. Se os líbios não encontrassem a formação ou tratamento médico de que necessitavam, tinham a oportunidade de os encontrar no estrangeiro com a ajuda de fundos do Estado. Este garantia 2.300 dólares por mês para alojamento e carro.

8. Se um líbio comprasse um carro, o governo subsidiava 50 por cento das despesas.

9. O preço da gasolina na Líbia era 12 centavos de dólar, (cerca de 0,10 euros) por litro.

10. Se após a graduação uma pessoa não encontrasse trabalho, o estado pagava o salário médio da profissão em que tinha procurado trabalho até ter encontrado um emprego tecnicamente adequado ..

11. A Líbia não tinha dívida externa e as reservas que totalizavm $ 150.000.000.000 de dólares foram divididos pelas potências ocupantes.

12. Uma parte de toda a venda de petróleo da Líbia era creditada diretamente na conta de cada cidadão da Líbia.

13. As mães que davam à luz uma criança recebiam 5.000 dólares.

14. 25 por cento dos líbios tinham um diploma universitário.

15. Khadafi lançou o "Grande Rio Artificial" (GMMRP ou GMMR) na Líbia. Este foi o maior projeto de canalizar a água potável para um melhor abastecimento de água da população e da agricultura.

Graças a Deus que a NATO e os "rebeldes" livraram os líbios de tudo isto!
 
Para quem souber alemão este artigo encontra-se em

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Grande manif hoje à tarde em Londres contra a renovação dos submarinos nucleares Trident


Milhares de manifestantes, incluindo Jeremy Corbyn, dirigente do Partido Trabalhista, e  líderes de outros partidos percorreram hoje as ruas de Londres, na marcha e manifestação CND Campanha Nacional para o Desarmamento), a maior manifestação  anti-nuclear desde 1983, quando 300.pessoas então reunidas no Hyde Park de Londres protestaram contra a instalação de mísseis de cruzeiro em Greenham Common , em  Berkshire.
Alguns dos participantes vieram de outros pontos do mundo incluindo a Austrália ou o Japão.
Outros vieram da costa oeste da Escócia, onde os submarinos de dissuasão nuclear da Grã-Bretanha estão ancorados.
Quando a coluna enorme de pessoas começaram a  sair de Marble Arch após as 13h, o clima era alegre apesar do frio.
Naomi Young, 34 anos, de de Southampton perguntava: para quê  gastar 100 mil milhões de libras ilhões para comprar uma arma? A menos que se queira destruir a terra... "
Muitos cartazes continham frases como como frases  "Bombas não, livros sim", "Cortem nas despesas de guerra e não no estado social" ou " Trident não, Serviço Nacional de Saúde (NHS) sim".
Muitos participantes referiam a contradição do custo de renovar os submarinos nucleares Trident com a política de austeridade imposta.
Os manifestantes dirigiram-se para Trafalgar Square, onde lhes falaram os líderes do SNP, Plaid Cymru e do Partido Verde. O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn fez uma forte intervenção que empolgou todos os presentes.
No palco sob aplausos, disse que ninguém se deve esquecer da "destruição em massa de ambos os lados" que se seguiriam a um ataque nuclear e reiterou seu "horror total pelo uso de armas nucleares contra qualquer pessoa".
Corbyn disse que foi eleito líder do Partido Trabalhista na base de um manifesto onde a oposição à renovação do Trident era uma componente essencial.
E disse que  entrou para a Campanha para o Desarmamento Nuclear, quando  tinha 16 anos, tendo também feito referência aos que questionaram se ele devia mesmo estar no protesto: "Um monte de gente disse que talvez eu não devesse estar aqui , mas eu quero estar aqui porque acredito num futuro livre de armas nucleares. "
No início desta semana, ativistas sindicais da GMB criticaram Corbyn por causa da sua posição sobre Trident, alertando que dezenas de milhares de postos de trabalho qualificados estavam dependentes de apoio parlamentar para a renovação do programa dos submarinos nucleares. Ao que ripostou, dizendo que defenderia re-investir parte do dinheiro alocado para os Trident para a manutenção de postos de trabalho nas áreas afetadas.
A actriz Vanessa Redgrave, Rou Reynolds da  band rock Enter Shikari, e a comediante Francesca Martinez também se dirigiram aos manifestantes. Outros oradores foram o padre Giles Fraser e o escritor Tariq Ali.
A manifestação teve o apoio de bandas como os Young Fathers e Massive Attack. A estilista Katharine Hamnett criou recentemente uima T-shirt "Stop Trident" e Geoff Barrow dos Portishead está a preparar um single para  campanha.
A votação parlamentar sobre a renovação dos submarinos Trident ocorrerá daqui a uns meses.

O Euro e a grande mentira, por Jacques Sapir

publicado em 24 de fevereiro de 2016
 
Para se fazer um balanço da moeda única devemos voltarar às suas origens. O Euro que foi introduzido entre nós como uma terra de grandes promessas  transformou essa terra numa grande mentira. O discurso a favor do Euro pretendeu ser baseado na ciência. No entanto, os argumentos científicos reais jogam contra ele. Temos de o reconhecer e admitir se queremos realizar uma avaliação objectiva. Mas também temos de entender por que é que a fundamentação científica nunca foi realmente levada a sério pelos apoiantes do euro que sempre o utilizaram como uma ferramenta de propaganda e não de esclarecimento.
Ler na íntegra
aqui
 


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Tributar mais os lucros exorbitantes da Galp e de outras petrolíferas – não sobrecarregar os consumidores com mais 360 milhões € de impostos

Em Portugal, verifica-se atualmente uma situação que não deixa de ser insólita. Órgãos de comunicação social, comentadores, jornalistas, associações patronais e condutores protestam contra o aumento do imposto de 6 cêntimos/litro sobre os combustíveis, mas já ninguém protesta contra os preços e lucros exorbitantes da GALP e das outras petrolíferas. As duas entidades reguladoras que existem neste setor (Entidade Nacional para o Mercado dos Combustíveis e Autoridade da Concorrência) , que supostamente deviam supervisionar o setor, mas que ninguém sabe por que razão existem e para que servem, e o governo permitem que a GALP e outras petrolíferas pratiquem os preços que querem, e os seus acionistas, na maioria estrangeiros ou com empresas criadas no estrangeiro como Américo Amorim, se apropriem de lucros escandalosos sem pagarem impostos pelos dividendos que recebem e transferem para outros países (...)
Os dados do Ministério da Economia confirmam que a causa principal do preço de venda ao público elevado do gasóleo em Portugal é o elevado preço sem impostos praticados pelas petrolíferas que permitem a estas obterem lucros exorbitantes, mas que ninguém protesta nem põe cobro e não, como afirmam as petrolíferas e seus defensores, os impostos. O mesmo se verifica para a gasolina 95 (...)

A GALP Energia já divulgou os lucros líquidos referentes ao 4º Trimestre de 2015, e eles atingiram 639 milhões €, ou seja, mais 71,5% do que os de 2014, que foram 373 milhões €. Isto dá bem uma ideia dos lucros escandalosos obtidos pelas petrolíferas em Portugal. Assim, no lugar de aumentar os impostos sobre os combustíveis pagos pelos consumidores que assim verão os seus rendimentos serem reduzidos em 360 milhões € como se prevê no OE-2016, o que é necessário é tributar mais os lucros exorbitantes das petrolíferas. É o que se espera que Assembleia da República com uma maioria constituída por partidos de esquerda o faça. Mas estamos aqui para ver se isso sucede. 
Extractos de estudo de Eugénio Rosa, a ler na íntegra em 
https://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2015/7-2016-lucros-petroliferas.pdf    

Frase de fim de semana, por Jorge

"Toleranz wird zu einem Verbrechen, wenn man dem Bösen mir ihr begegnet."

"A tolerância, quando em relação ao mal, transforma-se em crime"



Thomas Mann (Nobel da literatura alemão, 1875-1955) em A Montanha Mágica

Foto de Fernando Lemos - um surrealista na fotografia


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Viragem à esquerda na Irlanda nas eleições de amanhã?

As eleições de amanhã na Irlanda poderão inverter as maiorias parlamentares e levar à formação de um novo governo que o Sinn Fein, de esquerda, iria tentar formar.
 
As sondagens dão um empate técnico, com vantagem para o Sinn Fein. Os partidos que formam a actual maioria, o Fina Gaël, de direita, e o Partido Trabalhista, coligaram-se após as eleições de 2011 por o primeiro destes partidos ter então tido uma grande queda. Tendo sido, por isso, obrigado a recorrer a uma coligação de “centro-direita”com os trabalhistas para se manterem no poder.

Esta reviravolta política prenunciava-se já com  o plano de resgate, promovido pelos organismos da UE e que o actual governo aceitou. O impacto muito negativo que teve sobre as camadas com menos recursos da população provocaram lutas contra a austeridade muito antes destas eleições. As recentes manifestações contra a aplicação de uma taxa de água “igual para todos”, incluída nos compromissos com Bruxelas, deixava poderia  provocar esse resultado eleitoral, com uma grande subida do Sinn Fein, partido nacionalista irlandês, que no passado teve o IRA como braço militar, mas também de outros pequenos partidos que se opõem à política de austeridade como os Verdes, a Aliança Anti-Austeridade (AAA) e os sociais-democratas.

A receita da austeridade levou à saída de mais de 80 mil jovens à procura de emprego na Reino Unido, na Austrália ou nos EUA. Durante a crise perderam-se mais de 22% de postos de trabalho e a procura interna teve uma quebra de 20%. Depois disso o desemprego jovem manteve-se nos 20%. A crise gerou um movimento muito forte contra o “ajustamento brutal” que criou também uma série de taxas adicionais.
Se, apesar de tudo o Fine Gaël e o Primeiro-Ministro Enda Kenny se mantiverem no poder, a oposição à austeridade irá manter-se. O regresso ao crescimento económico, tão valorizado pelas autoridades europeias, não se traduziu na melhoria das condições de vida. As multinacionais têm beneficiado de um tratamento fiscal privilegiado e contribuíram para o crescimento económico  atendendo ao critério comunitário de que os seus números sejam contabilizados nesse crescimento. Mas têm reforçado as desigualdades ao partir o país em dois em função de quem trabalha ou não para elas. Desta forma o tal crescimento económico não tem nada a ver com as defendidas “reformas estruturais” defendidas pelo governantes, resultando, pelo contrário, da criação de empregos com altos salários.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Orçamento 2016: a segunda derrota da direita

A aprovação na generalidade pela maioria da Assembleia da República do Orçamento do Estado é um sinal que terá consequências positivas para o rendimento disponível de muitos portugueses e de famílias de menores recursos e para os trabalhadores da função pública que tinham visto degradados os seus rendimentos ao longo dos anos.
O PSD decidiu retirar-se da continuação dos trabalhos, revelando um conceito da representatividade parlamentar de abandono dos debates, o que é uma desconsideração para com os portugueses que elegeram os seus deputados.
A direita foi arrasada na troca de argumentos e esclarecimentos. Comportou-se como se não tivesse cabimento discutir em S. Bento orçamentos com orientações políticas diferentes das suas. Como se devesse sempre privilegiar os que mais têm em detrimento da maioria. Confundindo, para manipular consciências, subidas de impostos como se a política fiscal não tivesse sido reorientada em benefício da maioria e taxando mais quem mais consome certo tipo de produtos ou realiza certos tipos de operações financeiras, taxando mais a banca, etc.
 
Passos Coelho voltou a ter muitas dificuldades em negar que tinha traído Portugal nas instâncias europeias.
Como disse Jerónimo de Sousa, ao salientar que este não era o orçamento do PCP, ele pode abrir, no entanto, novos desenvolvimentos positivos, particularmente no plano social. E tornou muito claro quais teriam sido as medidas de um orçamento oriundo dos partidos da direita e as consequências que teria para o país.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Cuba: Restabelecer as relações com os EUA, receber Obama e assumir a Revolução



Nos próximos dois meses ocorrem em Cuba, com poucos dias de intervalo, dois acontecimentos de grande alcance: a visita à ilha de Obama nos dias 21 e 22 de Março e a realização do VII Congresso do Partido Comunista de Cuba no dia 16 de Abril.

Entretanto os voos dos EUA para Cuba e de aviões cubanos para os EUA estarão já reatados.
Segundo uma responsável do Ministério das Relações Exteriores de Cuba “Será uma oportunidade para que o presidente Obama possa perceber a realidade cubana e continuar a dialogar sobre as possibilidades de ampliar o diálogo e a cooperação bilateral sobre temas de interesse mútuo para ambos os países”.

Mas referiu que para chegar à normalização dessas relações bilaterais teriam que ser solucionados assuntos chaves pendentes, incluindo o fim do bloqueio e a devolução a Cuba do território ilegalmente ocupado pela Base Naval em Guantánamo.

No que respeita aos chamados “direitos humanos”, a mesma responsável clarificou que houve conversas sobre o assunto na base do respeito, igualdade, reciprocidade e sem intervenção nos assuntos internos. De facto, Obama ao anunciar a visita a Cuba  referiu-se a isso. São conhecidas as diferenças de conceções neste campo com os EUA a consideraram a liberdade numa perspetiva unidimensional e conformando-se com a fraca participação cívica dos cidadãos e a impossibilidade prática de, por razões financeiras e de condicionamentos diversos, os cidadãos poderem construir alternativas ao sistema bipartidário em que os partidos ”de poder” pouco se diferenciam nas questões essenciais. E com Cuba tendo construído um sistema de poder popular, aberto a todos os cidadãos, que privilegia a sua participação continuada na vida política, pese embora a necessidade de ser relançado com novas dinâmicas como o PCC tem sublinhado nos últimos anos. E com uma conceção de democracia com várias vertentes e grandes desempenhos nos planos político, social e cultural, com uma vertente económica que 50 anos de bloqueio têm procurado eliminar.
A receção "vai ser muito calorosa, com muito entusiasmo" e pode levar a uma certa "abertura", considerou, por seu lado, o presidente do centro de estudos Diálogo Interamericano, Michael Shifter, que considera que Obama quer "aproveitar ao máximo o tempo de mandato que lhe resta" para aprofundar, até onde seja possível, esta nova relação entre os dois países.

Esta visita poderá ser a oportunidade para a irreversibilidade deste reatar de relações.
Os responsáveis cubanos compreendem os aspetos positivos deste facto tal como compreendem os riscos de apoios norte-americanos a grupos que aproveitem este facto para confrontar o processo de reformas e de abertura cubano, que já dura há vários anos.

É o que se passa com o projecto “Génesis” que tem atraído jovens cubanos nos últimos anos que visa a constituição de uma “Fundação Génesis para a Liberdade” que teria um lançamento mediático à escala mundial como uma alternativa, a que não faltariam referências de esquerda e respeito pela revolução cubana mas considerada como arrumada no passado, com uma roupagem juvenil e com dinâmicas audiovisuais e de redes sociais. Os responsáveis cubanos conhecem esta actividade e estão convictos de saber lidar com ela e com projectos similares que conhecem e de que o povo cubano não deixaria de perguntar de onde viria o dinheiro para isso.
Pela nossa parte, estamos com Cuba, com o seu povo e com a Revolução Cubana.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Brigada de minas e armadilhas precisa-se

No Público de ontem, Pacheco Pereira publica um interessante e discutível artigo ("Tudo está armadilhado"). Termina aconselhando ao PS, PCP e BE coordenarem mais as suas intervenções sob pena da direita  daqui e dos organismos comunitários deitarem em breve abaixo este governo. Certamente os mais diretamente interessados o leram e tomaram boa nota, estejam ou não de acordo com tudo o que diz.

Registo que o país que a comunicação social fabrica é sujeito ao massacre de Passos Coelho, Cristas e outros dirigentes destes partidos mais os comentadores/ propagandistas, mais os grandes patrões a salientarem os aspetos "positivos" do anterior governo e os "negativos" do atual.
 
E que os dirigentes do PSD que ainda não digeriram a derrota de há cinco meses se contorcem, dizem palavrões e revelam um fundo mau, uma grande falta de educação e de ética no debate político. O desespero por terem perdido o poder pode compreender-se mas dar-lhe um eco excessivo é desvirtuar a democracia, a vontade popular, que deixou de os querer lá, é minar a confiança da maioria dos portugueses em descobrir as virtualidades do tal tempo novo e obrigá-la à força a ver de novo na ribalta os responsáveis da austeridade que varreu o país durante os últimos quatro anos.

O indecoroso comportamento para com Portugal dos dirigentes alemães, dos presidentes do Eurogrupo e do Conselho da Europa e da Comissão Europeia é ofensivo para com a nossa soberania. Se bem que tenhamos sempre também por aqui uma coluna que não será a quinta mas é seguramente a das cócoras disposta a tudo. Por muito que Passos Coelho negue que esteja a trair o país.

As reivindicações dos trabalhadores, as suas lutas não visam apoucar o governo mas comportam um capital que ajuda as políticas alternativas que se começaram a trilhar. Nem só a vozearia dos descontentes com elas vale. A força de quem trabalha também ajudará a conter os seus ímpetos. E os trabalhadores têm revelado capacidade de encarar a complexidade portuguesa à luz da vontade de querer mais e melhores condições de vida e de trabalho e de não aceitar o regresso para a austeridade suicidária de outros tempos.

E nos países da  União Europeia há coisas que mexem não só para o aprofundamento do federalismo e da austeridade imposta pelos mais fortes aos mais débeis. Há coisas que mexem em sentido contrário, para o acautelamento das soberanias e políticas de desenvolvimento, de apoio a quem trabalha ou já está na reforma ou sem emprego. A União Europeia quebrou regras na proteção social aos emigrantes por parte da Inglaterra e não poderá exigir amanhã a outros estados-membros que respeitem outras "regras" (que só têm valido para os grandes.
Se o governo do PS resistir às humilhações e agir multilateralmente para que se alterem regras, isso poderá  dificultar o caminho aos que, com o apoio dos governos conservadores da Alemanha e da França, já encaram uma União Europeia "reestruturada" avançada também ontem por Cameron, depois da aparente refrega com a Comissão Europeia.

O euro deu cabo da Europa, os europeus têm que dar cabo do euro (1)


Os países da UE que não aderiram ao euro (Inglaterra, Hungria, Polónia e Suécia) não estão mal de todo. Mas os que aderiram, depois da crise de 2010, ficaram paralisados pela austeridade, a que muitos eleitores reagiram virando o seu voto para partidos populistas ou “eurocépticos” (seguindo a terminologia dos eurocratas).

No plano dos “valores” de que a UE faz gala em ostentar, há que registar o seu desrespeito na agressão à Grécia e agora a Portugal. Com um orçamento comunitário reduzido a 1,25 % do PIB, o euro caiu e arrastou a sua influência recessiva e destruidora, que se faz sentir de há 15 anos a esta parte.

O euro provocou uma acentuada redução do crescimento nos países que o utilizaram. Comparando com as outras economias da Europa, a queda do crescimento médio anual foi de 1%.

A crise foi mais facilmente ultrapassada nos países que não são do euro.

Quadro 1

Comparação entre o crescimento dos países da zona Euro e 5 outros países da OCDE

 

PIB em 2015, indice 100=1999
Taxa de cr
Escimento médio em
1999-2015
Taxa média em 1999-2007
Taxa médiaem
 2008-2015
Impacto da crise
Belgica
125,6%
1,43%
2,23%
0,6%
-1,6%
Finlandia
128,2%
1,56%
3,73%
-0,6%
-4,3%
França
122,2%
1,26%
2,11%
0,4%
-1,7%
Alemanha
121,5%
1,23%
1,64%
0,8%
-0,8%
Grécia
104,7%
0,29%
4,07%
-3,4%
-7,4%
Italia
102,9%
0,18%
1,48%
-1,1%
-2,6%
Holanda
121,6%
1,23%
2,28%
0,2%
-2,1%
Portugal
106,2%
0,38%
1,52%
-0,8%
-2,3%
Espanha
130,6%
1,68%
3,74%
-0,3%
-4,1%
Total 9 países da zona Euro
119,1%
1,10%
2,18%
0,0%
-2,1%
Total sem Alemanha
118,1%
1,05%
2,40%
-0,3%
-2,7%
Canadá
142,3%
2,23%
2,80%
1,7%
-1,1%
Noruega
130,0%
1,65%
2,44%
0,9%
-1,6%
Suécia
140,2%
2,14%
3,24%
1,0%
-2,2%
Inglaterra
134,9%
1,89%
3,00%
0,8%
-2,2%
EUA
137,5%
2,01%
2,65%
1,4%
-1,3%

Fonte: base de dados do FMI

Quadro 2

Taxa de crescimento mundial média do PIB par habitante de 1999 a 2015

 

Taxa média em1999-2015
Taxa média em 1999-2007
Taxa média em  
 2008-2015
Impacto da crise
Bélgica
0,8%
         1,8%
-0,1%
-1,9%
Finlândia
1,0%
3,2%
-1,0%
-4,2%
França
0,7%
1,4%
-0,1%
-1,5%
Alemanha
1,3%
1,6%
0,9%
-0,7%
Grécia
0,2%
3,7%
-3,2%
-6,9%
Itália
-0,2%
1,2%
-1,5%
-2,7%
Holandas
0,8%
1,8%
-0,2%
-2,1%
Portugal
0,3%
1,1%
-0,6%
-1,7%
Espanha
0,7%
2,1%
-0,6%
-2,8%
Canadá
1,2%
1,8%
0,5%
-1,3%
Suécia
1,5%
2,8%
0,2%
-2,6%
Inglaterra
1,2%
2,5%
0,0%
-2,5%
EUA
1,1%
1,7%
0,6%
-1,1%

Fonte : FMI

Mas se se tivesse em conta o PIB por habitante que nos dá uma maior proximidade da situação em cada país, verificaríamos que desde 1999 só a Alemanha tem um crescimento contínuo deste índice quer dos países da zona Euro quer dos que estão de fora! Pelo contrário, a queda é significativa para os outros países: Grécia, Finlândia, Espanha, Portugal e Itália.
 
           Gráfico 1 - PIB por habitante


 Fonte: FMI

 O euro contribuiu para o empobrecimento relativo de uma grande parte da Europa mas o efeito também foi devastador com o investimento.

 

Queda do investimento produtivo

Investimento global
Investimento por habitante
Nível de 2015 em percentagem de 1999
Taxa de crescimento anual médio
Nível de 2015 em percentagem de 1999
Taxa de crescimento médio anual
Bélgica
120,8%
1,2%
109,8%
0,6%
Finlândia
114,9%
0,9%
107,9%
0,5%
França
122,9%
1,3%
111,9%
0,7%
Alemanha
96,2%
-0,2%
97,1%
-0,2%
Grécia
47,2%
-4,6%
46,7%
-4,7%
Itália
77,2%
-1,6%
73,0%
-2,0%
Holanda
97,0%
-0,2%
90,6%
-0,6%
Portugal
53,6%
-3,8%
52,6%
-3,9%
Espanha
100,5%
0,0%
86,5%
-0,9%
Total dos 9 países da zona euro
98,3%
-0,1%
92,5%
-0,5%
Canadá
163,2%
3,1%
138,2%
2,0%
Noruega
152,0%
2,7%
130,5%
1,7%
Suécia
157,8%
2,9%
142,2%
2,2%
Inglaterra
123,8%
1,3%
111,9%
0,7%
EUA
120,2%
1,2%
104,4%
0,3%

Fonte : base de dados do FMI

O investimento que mede o progresso e social dos países caiu na maior parte dos países e ainda mais no investimento por habitante
                                   Gráfico 2 - Investimento por habitante


Fonte: FMI

Se esta contração é importante para a Itália e a Espanha, é catastrófico para a Grécia ou Portugal (passam para níveis de investimento de meados dos anos oitenta do século passado). É uma cegueira continuar a ter ilusões sobre os efeitos positivos da austeridade. A quebra no investimento provoca a não renovação do stock de capital per capita. No que respeita ao capital fixo isso atinge todas as infraestruturas (estradas, pontes, caminho de ferro e outros transportes públicos, aeroportos, sistemas de captação, tratamento e distribuição de água, sistemas de comunicações). E no que respeita ao capital mais diretamente produtivo, as máquinas, etc. Isto põe em causa o futuro das populações dos países da zona euro, ao contrário do que acontece com os outros países europeus, os EUA ou o Canadá.

Este efeito induz também um efeito depressivo na economia mundial. Mas também, entre nós, no emprego, particularmente entre os jovens, e na confiança, o que pode gerar sérios conflitos sociais.

Não há fum-fum nem gaitinhas que defendam os aldrabões. Cavaco, Passos Coelho, os comentadores sabichões, os jornalistas dos fretes, por muito alienígenas que sejam, não podem contornar os dados da economia real: insistir na tragédia do euro, é a liquidação de Portugal e da Europa!