Número total de visualizações de páginas

sábado, 26 de agosto de 2017

“Exodus”, (a propósito do reenvio de um e-mail que me fizeram)


Trata-se de um animação satírica e inteligente, a partir de uma realidade trágica, feita pela cartoonista norte-americana Nina Paley, que mostra o conflito histórico pelo domínio da região também conhecida por Terra Santa. A animação “This Land is Mine” (“A Terra é Minha”) ilustra a matança dos povos habitantes daquela região, com a banda sonora criada por Ernest Gold e Pat Boone, todos eles, e também Leon Uris, activistas do sionismo que se implantou em Israel.


“This Land is Mine” é uma sátira à “The Exodus Song”. Esta música funcionou como um espécie de banda sonora do sionismo americano na década de 1960 e 70.
 

O “Exodus” foi um dos navios que procederam ao transporte de imigrantes ilegais, de países onde tinham sido vítimas dos crimes horríveis dos nazis, para a Palestina, no período que precedeu a fundação do Estado de Israel. O navio foi comprado pela Agência Judaica em 1947. Este e outros navios, depois de chegarem à costa da Palestina, foram mandados para trás pelos colonizadores ingleses. A população da Palestina reagiu a esta imigração maciça mas foi vítima de agressões, assassinatos e emigração para outros territórios.

Em 1958, Leon Uris escreveu um livro, Exodus, inspirado na história do navio, onde retrata o Holocausto, a imigração para a então Palestina e a criação do Estado de Israel. No livro, porém, a história do navio tem um final mais feliz: os judeus refugiados não regressam à Europa e conseguem, através de uma greve de fome, dobrar as autoridades britânicas e descer na Terra de Israel (a Palestina). Em 1960, com o mesmo título, Otto Preminger fez um filme baseado na obra de Leon Uris, e tendo como principal intérprete Paul Newman.

O tom épico de coragem, que encerravam, prendeu-me a eles, nos meus catorze anos, quando ainda não tinha condições para conhecer a outra parte da história. Só com a luta do povo palestiniano contra as ocupações e massacres perpetrados por Israel, conheci esse outro lado da narrativa.

O livro e o filme que adoptaram o nome do navio constituíram actos de propaganda maciça, essencial para que nos EUA e Europa, nomeadamente, depois do fim da 2ª Guerra, se criasse uma opinião pública favorável à instalação do estado de Israel e à remoção forçada dos habitantes da Palestina. As organizações militares hebraicas Haganah, Mossad e Irgum sustentaram esta operação para mostrarem ao mundo a necessidade de um Estado Judeu - uma pátria soberana e independente, lar incontestável de todos os judeus. Minaram também as possibilidades de fazer regressar aos países de origem, nomeadamente àqueles que tinham sido libertados dos nazis, de muitos judeus que passaram grandes privações nestas viagens de marítimas, sempre sem porto seguro e sujeitas a regressos à Europa.

Diante do agravamento da situação, os ingleses passaram o problema para a recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU), que criou o Comitê Especial para Palestina (UNSCOP) a fim de tratar da decisão pela partilha territorial. O eleito para a Assembleia Geral de 1948, que ficou encarregado de gerir essa questão, foi um brasileiro que havia sido ministro de Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha. Aranha propôs a criação do Estado judaico e desencadeou uma votação de delegados das nações então constituídas. Todos os países árabes votaram contra a criação de Israel e a divisão do território. Alguns países ocidentais, como a Inglaterra, não votaram, mas a maioria votou a favor. O Estado de Israel foi então declarado oficialmente existente.
O líder judeu que encabeçou todo o processo era ainda Ben-Gurion. Foi ele que, inclusivamente, assinou a declaração de Independência de Israel no Museu Nacional de Tel- Aviv, e, depois, foi eleito o primeiro-ministro da república de base parlamentar de Israel.

No mesmo ano em que foi reconhecido como Estado oficialmente existente, Israel teve de lidar, como era natural, com a primeira de muitas guerras que viria a enfrentar contra os Estados Árabes, que, por muito tempo não reconheceram o direito de Israel de existir, só o vindo a fazer pela força das armas e pela pressão de Washington.

Um outro tema me prendeu e ainda hoje continuo a saber a letra de cor e a poder cantá-lo, coisa de deixei de querer com o acentuar do carácter fascista dos sucessivos governos israelitas, foi o “Exodus Song”, que foi buscar o nome “This Land Is Mine”, de forma oportunista, este de facto um bom filme de Jean Renoir, de 1943, que tem a ver com a resistência ao nazismo em França nos meados da guerra, e a terra que é “minha” é a França e não a “Terra Prometida”, invocada pelos criadores do estado judaico. E que teve música de C. Bakaleinikoff e Lothar Perl.
 
The Exodus song” (This Land is mine) foi composta por Ernest Gold e interpretada originalmente por Pat Boone e é a música principal da banda sonora do filme. Fica o trailer
Trailer  do

 

Segue-se a tradução muito pessoal

Esta terra é minha
Deus deu-me esta terra
Esta terra valente e antiga
Deu-ma a mim

 
E quando o sol da manhã
Revela seus morros e planícies
Então vejo uma terra
Onde as crianças podem correr livremente

 
Pega então na minha mão
E percorre esta terra comigo
Esta terra encantadora
Comigo

 
Embora seja apenas um homem
Quando estás ao meu lado,
Com a ajuda de Deus,
Eu sei que posso ser forte (bis)

 
Para que esta terra se torne na nossa casa
Se eu tiver que lutar, vou lutar
Para fazer dela a nossa terra.
Até eu morrer, esta terra é minha

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Bom fim de semana, por Jorge

"Neither beliefs nor morals should be based
on gut feelings, or on ancient books,
private revelations or priestly traditions."

"Nem as convicções, nem os costumes deviam estar baseados

na intuição, em livros antigos,
em revelações pessoais ou nas tradições religiosas."

Richard Dawkins

biólogo inglês,
n.1941

A transparências das eleições em Angola e os resultados parciais contados até há dois dias

Numa declaração conjunta apresentada à imprensa os antigos presidentes Pedro Pires, de Cabo Verde, Joaquim Chissano, de Moçambique, Manuel Pinto da Costa, de S.Tomé e Príncipe e José Ramos Horta, de Timor-Leste, convidados a supervisionar as eleições em Angola na qualidade de observadores internacionais, consideraram "pacíficas, livres, justas e transparentes" as eleições.
Os antigos líderes observaram as diferentes assembleias de voto na capital do país, tendo testemunhado ...a abertura e o fecho das urnas, o processo de votação, a contagem dos votos, incluindo o apuramento dos resultados em alguns locais de votação. Também constataram que as eleições decorreram de forma ordeira e pacífica, sem incidentes ou irregularidades de realce.
“Constatamos com satisfação uma taxa de participação acima da média e a existência de muito poucos votos nulos e em branco, fruto de uma campanha de educação cívica bem sucedida”, disse Pedro Pires, que leu a declaração conjunta.




No dia anterior a esta declaração foi feita divulgação dos resultados parciais das eleições angolanas quer de origem nos delegados do MPLA às mesas de voto quer de origem na CNE pela recepção dos resultados das próprias mesas de voto, poderiam ter sido completadas pelos dados que se esperaria poderem ser enviados aos restantes partidos pelos respecivos delegados às mesas de voto.
Não o fizeram por incompetência? Ou porque os resultados a divulgar seria divulgarem a sua própria derrota?
Compreendo que quer a CNE quer...
o MPLA tenham divulgado os resultados, recolhidos por vias não coincidentes, porque um período longo de espera poderia aproveitar aos pescadores de águas turvas para procederem a alguma desestabilização.
A Comissão Nacional Eleitoral (CNE), divulgou os primeiros resultados provisórios saído das eleições gerais para um total de 5.938,853 votos. Cada formação política, teve o seguinte resultado à nível nacional: MPLA-64,57%, UNITA-24,4%, CASA-CE-8,86%, PRS-1,37%, FNLA-0,95%, APN-0,52%.
Relativamente à sondagem do Instituto Piaget/Universidade Católica, estes resultados revelam que o MPLA poderá ter subido em relação a ela, que a UNITA poderá ter subido bastante, que a CASE-CE poderá ter diminuido bastante (mas ambos somados com resultado ligeiramente inferior ao da sondagem) e que poderá ter falhado atentativa de fazer do CASE um caso resultante do fluxo das redes sociais e dos jovens que votaram pela primeira vez.
 


segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Eleições em Angola


Hoje é o último dia da campanha eleitoral em Angola.

De acordo com as últimas sondagem conhecidas, João Lourenço será o próximo Presidente de Angola e na Assembleia Nacional o MPLA manterá a maioria dos deputados, como em 2012.

Poderão ter mais de 60% dos votos (em 2012, 71,84%). Em 2012 o MPLA atingiu uma maioria absoluta de 175 deputados, enquanto a oposição ficou pelos 45.

Ao contrário de França, por exemplo, que tem um outro tipo de presidencialismo que garante automaticamente ao presidente eleito uma maioria confortável de deputados, em Angola isso não acontece.

A CASA-CE (Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral), de Abel Chivukuvuku, poderia ser a segunda força mais votada, com cerca de 19% das intenções de voto (em 2012, 6%), embora a diferença em relação à UNITA, que ficaria com 15% (em 2012, 18,66 %) se situar na margem de erro da sondagem. “Mas, ainda assim, existe a possibilidade de a CASA-CE se tornar na segunda força com mais assentos no Parlamento", estima Carlos Pacatolo.

A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) criticou a sondagem. O candidato, Isaías Samakuva, considera que a amostra "não permite um apuramento sério da intenção de voto dos angolanos".

Nestas eleições concorre mais um partido, o APN.  Mas estas três candidaturas continuariam a ter reduzida expressão eleitoral, a saber Quintino Moreira e o APN, Lucas Benghi Ngonda e a FNLA e Benedito Daniel e o PRS. Mas elegerão deputados, como em 2012.

Para as eleições da próxima quarta-feira, a CNE constituiu 12.512 assembleias de voto, que incluem 25.873 mesas de voto, algumas a serem instaladas em escolas e em tendas por todo o país, com o escrutínio centralizado nas capitais de província e em Luanda. Estão inscritos 9.317.294 eleitores em todo o país. A província de Luanda, a maior eleitoralmente, apresenta 2.882.632 eleitores.

Os delegados às mesas de voto terão um subsídio do Estado para o efeito.

Segundo a CNE, estavam credenciados no passado dia 17, 1.200 observadores nacionais e 200 observadores internacionais. Estando, assim cobertos um número significativo de mesas de voto para esse efeito.
 

 A UE, ao contrário do que nestas situações acontece noutros países, queria ter observadores seus em Angola mesmo antes do início da campanha eleitoral, o que violaria a lei eleitoral. Os eurodeputados não poderão estar presentes e a UE terá apenas quatro “peritos” eleitorais. Andou aqui a mãozinha de Ana Gomes? Os peritos reuniram com a FNLA, “A FNLA esclareceu as inquietações que os peritos apresentaram em relação ao andamento do processo eleitoral que decorre no país”, disse à imprensa o secretário-geral do partido, Pedro Dala. Para a CASA, o seu presidente Abel Chivukuvuku , tinha declarado há dias aceitar o resultado das eleições e, depois da reunião com os peritos da EU, Dala referiu que o processo eleitoral caminha dentro da normalidade, apesar de um ou outro constrangimento.
 

As sondagens

Na sondagem acima referida, João Lourenço poderia tornar-se no próximo Presidente de Angola se se confirmar a maioria absoluta, que deverá superar os 60%, segundo o inquérito político-social do Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela, em parceria com o Instituto Superior Politécnico Sol Nascente do Huambo e o apoio da Universidade Católica Portuguesa.

Apesar de prever mais uma vitória do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Carlos Pacatolo, coordenador da sondagem, aponta para uma possível mudança no cenário político no país, devida à passagem da CASE-CE a segundo partido mais votado com 19%, enquanto a UNITA poderia ficar nos 15%.

Nesta sondagem, 30% dos eleitores desconfia da credibilidade da eleição (em número que porém se situa abaixo da soma das expectativas eleitorais dos vários partidos de oposição).

Uma outra pesquisa, realizada entre os dias 8 e 12 deste mês em todo o país pelo Consórcio angolano Marketpoll Consulting e pela brasileira Sensus Pesquisa e Consultoria, dá a vitória ao MPLA e ao seu candidato, João Lourenço, com 68% dos votos.

E há mais de uma semana a esquerda.net divulgou em Portugal outra “sondagem” em que MPLA ficava atrás da Oposição, com apenas 38% dos votos, baseado num artigo de 10 de Agosto, no Maka Angola, de Rafael Marques de Morais. Este personagem, também grato ao lobby anti angolano em Portugal, apresenta-se como investigador no National Endowment for Democracy (NED), um dos dois organismos da administração norte-americana que canaliza financiamentos para ONGs que procuram desestabilizar regimes da sua lista negra. E Angola é um deles.

E atribuía a “sondagem” ao consórcio Marketpoll Consulting e a Sensus Pesquisa e Consultoria, já atrás referido. Só que estas empresas desmentiram essa suposta sondagem eleitoral, que, de acordo com as consultoras, nunca foi realizada, sendo todos os dados contidos na matéria” falsos e irresponsavelmente difundidos”.

Num comunicado, as duas empresas afirmaram que “a matéria veiculada pelo “Maka Angola” socorre-se de uma fonte não credível, sendo completamente falsa e passível de responsabilização judicial, nos termos da lei angolana e no quadro internacional dos crimes cibernéticos.”

Nem esquerda.net nem Rafael Marques de Morais sentiram necessidade de corrigir a mentira.


Tempos de antena e campanha eleitoral

Cada concorrente às eleições gerais teve cinco minutos de antena na televisão e dez minutos na rádio, a partir das 20 horas do primeiro dia da campanha eleitoral.

As formações políticas concorrentes às eleições gerais deste ano utilizaram de forma diferente os tempos de antena na Rádio Nacional de Angola (RNA) e na Televisão Pública de Angola (TPA), com promessas e aspectos programáticos, sendo os dos partidos da oposição frequentemente irrealizáveis e muito críticos em relação ao governo nos atrasos de políticas sociais. Em dois casos avançam com propostas que não podem ser contempladas no quadro constitucional como o federalismo ou a separação das eleições presidenciais das legislativas

Os incidentes foram muito poucos.

Quanto às declarações das candidaturas, João Lourenço afirmou que o MPLA vai “promover e estimular a competência, a honestidade e entrega ao trabalho e desencorajar o ‘amiguismo’ e compadrio no trabalho”. “O MPLA reafirma neste programa de governação o seu compromisso na luta contra a corrupção, contra a má gestão do erário público e o tráfico de influências”, referiu o dirigente, acrescentando que o partido conta com “os angolanos empenhados na concretização do sonho da construção de um futuro melhor para todos”. “Vamos contar com aqueles que estão verdadeiramente dispostos a ‘Melhorar o que está bem e a corrigir o que está mal'”, numa referência ao lema da campanha do partido às eleições gerais de 23 de agosto deste ano. Estas declarações são promissoras para que possa cessar a corrupção e amiguismo em altos cargos do país. Como positivo foi o seu apelo para que o dinheiro em contas de cidadãos angolanos noutros países regresse ao país e possa ser aplicado em investimentos de que ele carece.

Mas as intenções confrontam-se com as realidades. Como combater a corrupção num país que importa muito (hoje menos devido à falta de divisas), em que essa actividade, que pode gerar luvas muito altas, se junta a que o estado e particulares entram em regimes de contratação de obras públicas e prestação de serviços que facilitam a corrupção? E os ricos, que depositaram noutros países o dinheiro que obtiveram, muitas vezes em esquemas fraudulentos, e que se traduziram também na fuga ao fisco, em que condições aceitariam o regresso a casa dessas fortunas elevadíssimas?

Mas quem são os que em Portugal ou nos EUA atiram a primeira pedra? Os que aqui e lá estão mergulhados até ao pescoço em processos semelhantes? E que autoridades têm estes para intervir em assuntos internos de Angola e condicionarem a soberania do país que cabe apenas aos angolanos? Ou é ainda a mentalidade colonial a pairar nessas cabeças.

As outras cinco candidaturas apresentaram algumas propostas interessantes, mas mais frequentemente avançaram com objectivos irrealistas e demagógicos, atendendo à conjuntura angolana. Noutros casos avançaram com objectivos que violam a constituição, como o federalismo e a realização das eleições presidenciais e legislativas em momentos distintos. Mas tudo isso avançado, naturalmente, no quadro destas eleições realizadas em democracia.

Em tudo o que lemos, ouvimos e vimos nos meios de comunicação social mais afectos ao governo ou à oposição, não se podem extrair conclusões que afectem a democraticidade da campanha.

Contrastando com o ambiente relativamente calmo da campanha eleitoral, a três dias das eleições, as formações políticas da oposição, com excepção da APN, ameaçaram desencadear uma série de medidas, entre elas a realização de manifestações, caso não sejam resolvidas algumas questões que consideram essenciais para a lisura e transparência do processo eleitoral. Fizeram-no em conferência de imprensa, dirigida por Adalberto Costa Júnior, em representação do presidente da UNITA, e em que não estiveram representantes destacados dos partidos que a convocaram.

O que entra em contradição com as declarações do presidente da CASA-CE e do secretário-geral da FNLA, atrás referidas.

Os partidos acordaram antes com a CNE que cada formação política credenciasse 200 mil delegados, mas, a três dias da data das eleições, ainda se estará muito aquém de se atingir esta meta. Para estes partidos, devem ser eles próprios a completar a credenciação. Face a deslocações de tropas de uns para outros pontos do país, interpretam isso como o MPLA estar a querer prevenir resultados eleitorais menos favoráveis nesses locais.

Também a transferência de eleitores de assembleias de voto próximas das suas áreas de residência para outras zonas. A CNE angolana nega intenção de prejudicar os eleitores. (1)

Já em Junho passado, a UNITA tinha convocado manifestações contra a escolha, por concurso, das empresas Sinfic e Indra, para a elaboração dos cadernos eleitorais, a credenciação os agentes eleitorais bem como garantir os materiais de votação e as soluções tecnológicas.


A última legislatura

Durante a legislatura que terminou na passada 3ª feira, consolidou-se o papel da Assembleia Nacional na produção legislativa relevante e no sistema de poderes definido constitucionalmente. Foram aprovados 21 diplomas, nomeadamente a Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino, a Lei da Divisão Político-Administrativa e a aprovação da Lei das Autarquias, suporte da actividade a ser desenvolvida no país até à instauração das autarquias locais importante primeiro passo para a sua criação. Foram ainda aprovadas a Lei que aprova o Orçamento Geral do Estado, a Lei que aprova o Regime Jurídico das Contrapartidas, a Lei de Imprensa, a Lei da Entidade Reguladora da Comunicação Social e outra sobre o Exercício da Actividade da Radiodifusão, assim como a Lei do Estatuto do Jornalista, a Lei de Protecção das Redes e Sistemas Informáticos, a Lei Geral da Publicidade, a Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas.

Por iniciativa parlamentar, nomeadamente no âmbito de comissões, aprovou-se legislação relativa ao controlo e fiscalização das acções do Executivo, ao nível de relações internacionais e a questões de organização das próprias comissões.

Os debates parlamentares foram vivos.


 Os marginais

Depois da morte de Jonas Savimbi, em 2012, a aposta de quem queria reverter a situação de Angola, no desrespeito pela Constituição, viria a recair no grupo de Luatyr Beirão, que acabou em liberdade, depois das acusações que lhe foram imputadas em 2015, tornando-se no “must” que beneficia mais dos apoios do lobbie anti angolano em Portugal, que funciona desde a declaração da independência em 1975. Projecção mediática, viagens e outros apoios não lhes faltam.

O Expresso do passado dia 12 não se limitou a tentar fazer passar a ideia do sociólogo Álvaro Pereira que antevê a vitória do MPLA, mas que admite que uma nova forma de governo pode surgir em Angola com um Presidente minoritário?

Fez uma longa entrevista a Luatyr na Revista da mesma edição, com a capa integralmente coberta com a figura de Luaty Beirão, e mais 9 páginas, sendo quatro delas para outros tantos "bonecos" dele também em página inteira.

Luatyr não vota “porque não vale a pena, porque João Lourenço e o MPLA já ganharam”...Da entrevista ressaltam outras considerações repetitivas sobre a situação em Angola. Mas o jornalista da Impresa que o entrevista centra o interesse editorial sobre uma nova coligação de partidos que poderia ser dirigida por ele próprio ou em parceria com Rafael Marques. A Impresa - refira-se a propósito -, tem pendente a autorização do governo angolano sobre a pretensão da SIC em instalar vários canais de TV em Angola.

E o esquerda.net não dá apenas o espaço que referimos em baixo a Sedrick de Carvalho. Vai trazê-lo cá no dia 26 para uma conferência. Está-se mesmo a ver para quê…Nem outros apoios se ficam pelos da “Tinta-da-china”.

Alguns dos elementos deste grupo manifestam algumas simpatias pela CASE-CE, de Abel Chivukuvuku, segundo sucedâneo de Savimbi, que poderia vir a sofrer alterações internas. Mas, para já, agora afastam-se do acto eleitoral para “não pactuarem” com o regime que vem aperfeiçoando o seu carácter democrático.

O tom das suas declarações é típico de outsiders que esperam uma oportunidade que os tire do isolamento em que ficaram depois da sua libertação. E querem aproveitar a crise social que possa resultar da deterioração da economia angolana. Lá voltará, então, o estudo dos ensinamentos do livrinho de Gene Sharp, adaptado à realidade por Domingos da Cruz, outro dos 15 detidos em Angola em 2015, e que, entretanto Bárbara Bulhosa, da Tinta-da-China, editou em português.

São de registar algumas afirmações de Sedrick e Luaty:

“O presidente da República, enquanto instituição, é o principal promotor da violência no país, e recompensa quem assim procede. Da morte de Jonas Savimbi às actuais mortes e detenções, a mão institucional está presente.” (…)

“Não há guerra em Angola, mas também não há paz!”

(Sedrick de Carvalho, esquerda.net 15/08/17)

“[João Lourenço] já ganhou. Já cozinhou isso. (…) com tudo o que se passou já não é uma vitória justa, já se condicionou o voto das pessoas.” (…)

“[Sobre as eleições a 23]: Não vou meter-me no mesmo carro, com os mesmos assaltantes, com o mesmo valor no bolso, para ser roubado de novo” (…)

“Não vou diminuir-me à condição de pateta alegre que se entrega às mãos dos bandidos a cada cinco anos. Alguns de nós tentámos aproximar-nos dos partidos da oposição para criar esse novo elemento e dar um sinal forte à sociedade.” (…).

(Luaty Beirão na entrevista ao Expresso já referida)

E, já agora, de Rafael Marques de Morais

 “Angola é dotada de imensuráveis riquezas naturais e tem registado na última década um impressionante crescimento económico, sem impacto positivo no quotidiano da maioria dos angolanos, que continuam a viver na miséria.”

Os operacionais do lobby que já tanto mal fez às relações luso-angolanas, continuarão a levá-los ao colo. Provocam mossa às relações do nosso país com Angola mas, para já, estão limitados pela continuidade das relações económicas, culturais e políticas entre os dois países.
 

Evolução da economia

O Produto Interno Bruto (PIB) per-capita em Angola assumiu em 2016 o valor de 3.654,73 dólares de acordo com dados oficiais (inferior seis veze sem relação ao português).

Está em curso, entretanto, a instalação de novas estruturas que potenciarão o crescimento.

O país combateu os resultados da crise financeira internacional de 2012, com efeitos a partir de 2014, e mais recentemente os riscos da quebra dos preços de venda do petróleo nos mercados internacionais, que reduziram o peso das suas receitas no PIB. Considerando os dados do produto em sectores agregados, conclui-se que o maior peso no PIB corresponde ao sector não petrolífero, com 80,4%, representando o sector petrolífero, apenas 19,6% do PIB. Face à queda o preço do petróleo, o programa de governo teve que ser alterado para redefinir as despesas públicas para que fosse possível assegurar a sustentabilidade da agenda de desenvolvimento.

O aumento do peso no PIB do petróleo aumentou até 2008, chegando então aos 57,9%, de acordo com dados do Ministério do Planeamento. As autoridades angolanas têm realizado políticas que têm atribuído cada vez maior peso ao sector não petrolífero da economia mas não compensando o crescimento perdido da economia

Hoje é o sector dos serviços que aparece em primeiro lugar, com cerca de um terço do PIB. Temos depois o sector dos petróleos, a agricultura, a construção e a indústria transformadora.

Mas, em resultado da crise, a construção está em queda desde 2014 com muitos despedimentos e a indústria transformadora só em pequena parte resolve o abastecimento dos consumíveis à actividade industrial.Com peso menor estão os sectores dos diamantes, das pescas e da energia.

No período 2008-2016, o PIB não petrolífero cresceu a um ritmo médio de 8,4% ao ano. Já desde três anos antes da legislatura que agora chegou ao fim, o produto interno bruto esteva a subir até ao ano de 2013. Mas a partir de 2014, devido à crise, esse crescimento abrandou, situando-se em valores cada vez mais baixos e atingindo 0,1% em 2016.

O crescimento em relação à indústria transformadora é ainda tímido, enquanto se regista uma relativa manutenção da importância do sector agrícola no cômputo geral do PIB, com altos e baixos nos últimos dez anos.

Apesar de Angola não ter tido em 2016 crescimento negativo em dois trimestres consecutivos, para se poder falar em recessão, com crescimentos tão baixos o seu risco é real e vão ser necessários grandes esforços para a evitar.

A recessão tem normalmente um efeito dominó, que resulta da falta de confiança dos agentes económicos na economia, bem como da diminuição da disponibilidade de crédito e da consequente diminuição do consumo a que se seguem a diminuição da produção, o desemprego e a consequente diminuição do consumo.

José Eduardo dos Santos no seu último discurso como Chefe do Governo salientou que “Foi importante termos encarado a crise económica e financeira como uma oportunidade para nos libertarmos da dependência excessiva desse produto [o petróleo] e para acelerarmos o processo de diversificação da economia, através do aumento da produção interna, da redução das importações, do fortalecimento do tecido empresarial nacional, da promoção e criação de emprego e da diversificação das fontes de receitas fiscais e de divisas”. Mas, para sermos objectivos, digo eu, a diversificação da actividade económica não se resolveu. A queda do preço do petróleo continua e, a não ser contida, agravará a situação da economia.

Para o futuro, será, certamente, necessário apostar de forma mais incisiva na agricultura e na indústria, baixando a importância relativa dos serviços e do sector petrolífero e na criação de emprego, procurando particularmente ir ao encontro dos jovens, nas suas necessidade objectivas para singrarem na vida, tornando-os também menos permeáveis a manobras desestabilizadoras que visam, em última análise, criar condições de entrega da exploração das riquezas e do trabalho angolanos em condições que afectem mais a soberania e os direitos os trabalhadores.



José Eduardo dos Santos

Para compreender o drama de Angola, importa ter em conta que, para além dos onze anos de luta pela libertação do domínio colonial português e de num ano e meio, depois do 25 de Abril em Portugal, ter acedido à independência, em 11 de Novembro de 1975, Angola foi vítima de uma guerra civil desde esse dia até ao ano de 2002, depois da morte de Savimbi. Foram anos e anos a construir para depois reconstruir o que tinha sido destruído, e a viver com a morte sempre à porta. Foram 27 os anos da guerra e 15 os de paz.

Depois da morte de Agostinho Neto, em 1979, José Eduardo dos Santos assumiu a presidência até 2012, com a guerra civil imposta particularmente pela UNITA, os EUA e um lobby anti-angolano em Lisboa. Só a partir de 2002 um país com imensas perdas de vidas humanas e destruição de famílias (500 mil mortos e 4,3 milhões de deslocados) e destruição das suas infraestruturas pôde começar, em paz, a sua reconstrução. E ainda assim comos efeitos da crise financeira internacional e a queda drástica dos preços do petróleo.

José Eduardo dos Santos foi eleito Presidente da República nesse ano, como cabeça de lista do MPLA nas eleições gerais, as primeiras num novo quadro constitucional inaugurado em Fevereiro de 2010.

Durante este período, José Eduardo dos Santos afirmou-se como um grande dirigente nacional de projecção universal.

Deixou a todos os angolanos a paz, a reconciliação nacional, a estabilidade política e social, o normal funcionamento das instituições do Estado, a unidade e integridade do território nacional, a recuperação da economia e o desenvolvimento do país.

Apesar das enormes desigualdades que continuam a existir no rendimento e condições de vida dos cidadãos e do alastramento da corrupção às camadas dirigentes, estamos certos que o MPLA ganhará as eleições de 4ª feira e conseguirá vencer os problemas de que padece. Estamos com ele e com João Lourenço.
 
(1)  http://observador.pt/2017/08/19/cne-de-angola-desvaloriza-casos-de-eleitores-colocados-a-votar-a-mil-quilometros-de-casa/

 

 

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Trumpalhada de perigosidade extrema

Com epicentro na conturbada administração norte-americana, vivem-se hoje momentos tensos à escala internacional que exigem de todos nós uma posição que engrosse o número dos que activamente entendem contribuir para que se contenha o essencial dos riscos e que não se traduza no enfiar a cabeça na areia, dizendo que todos os actores dessa tensão têm responsabilidades, e esperando que as crises passem. Particularmente para quem se reclame de esquerda há que distinguir o essencia...l do acessório mesmo quando se entenda que este acessório não seja coisa pequena.
Na administração norte-americana diferentes grupos de influência tornam a administração ainda mais imprevisível e ameaçadora. Trump não só ameaça de ataques nucleares a Coreia do Norte como admite uma intervenção armada norte-americana na Venezuela e tolera uma manifestação nazi violenta nos próprios EUA, talvez querendo que isso possa colher simpatias junto dos muitos deserdados que o elegeram.
A Coreia do Norte responde às provocações da outra parte que, desde a Guerra da Coreia, nunca cessaram e agora se irão prolongar com exercícios dos EUA e da Coreia do Sul no Mar da China. A China e a Coreia do Norte reagem naturalmente a essas ameaças e à da instalação do sistema THAAD na Coreia do Sul.
Na Venezuela, o presidente usou os seus direitos constitucionais para fazer face a um conflito institucional, que dava cobertura a tentativas violentas da tomada do poder que em nenhum país seriam aceite pelas autoridades, e suscitou a eleição popular de um modelo de Assembleia Nacional Constituinte, que torneasse esse conflito, que a oposição quis boicotar, retirando-se dessa eleição. À oposição cabe agora decidir se quer continuar ou não a boicotar os próximos actos eleitorais.
Com espírito construtivo para garantir a paz, a segurança e a subsistência das populações, das várias partes se espera que se deem passos nesse sentido

domingo, 13 de agosto de 2017

Passos Coelho e a piromania



Passos Coelho, no Pontal, onde os comícios já se fazem à mesa, ultrapassou-se nos disparates, nas agressões, nas insinuações. Afirmo-o sem ter que ser considerado apoiante da política do actual governo – que não sou.
Passos Coelho continua a querer tirar dividendos políticos do drama dos incêndios
A falta da ética que também tem de ter alguma expressão mesmo no debate político aceso, mas o presidente do PSD revelou-se como um pirómano que, de qualquer maneira, quer fazer entrar o Diabo em cena.
Enfim não consegue ir mais longe e talvez com isso se chamusque.

Um novo panorama para o Médio Oriente alargado, segundo Thierry Meyssan

O jornalista franco-sírio Thierry Meyssan tem uma interpretação própria sobre Trump e o Médio Oriente alargado, que não compartilho mas que entendo ser interessante conhecer.


Da esquerda para a direita, em cima: o Secretário Geral Sayyed Hassan Nasrallah (do Hezbollah) e o Presidente Bashar al-Assad (Síria). Em baixo, o primeiro-ministro Haider al-Abadi (República do Iraque) , o presidente Michel Aoun (República do Líbano) e o General Mohammed Ali Jafari (comandante em chefe da guarda revolucionária), todos irmãos em armas contra os jihadistas.
A política externa do presidente Trump concretiza-se, m relação ao Médio Oriente alargado, conseguindo com o apoio do conselheiro-geral de segurança nacional, H. R. McMaster e do seu diretor da CIA, Mike Pompeo, acabar com os programas secretos para apoiar jihadistas.
Ao contrário dos subentendidos do Washington Post, de que a decisão fora tomada antes da reunião Trump-Putin no G20, ela foi, de facto, tomada um pouco mais de duas semanas antes, durante a preparação da cimeira de Riyadh, em meados de Maio. Não se tratava de ajoelhar-se perante o "czar da Rússia", como insinuava a classe política de Washington, mas de acabar com o uso do terrorismo, tal como Donald Trump tinha dito declarado durante a sua campanha eleitoral.
As falsas insinuaçõesdo Washington Post encontraram eco em toda a imprensa ocidental. Talvez este facto se deva ao "espírito gregário" dos jornalistas ocidentais, talvez mas o mais certo é que isso mostra que a grande mídia propriedade dos defensores da guerra no Médio Oriente e contra a Rússia.
Revelações búlgaras recentes sobre a existência de uma grande rede de tráfico de armas, criada pelo general David Petraeus, quando este ainda era diretor da CIA, em 2012, e que continuou no seu escritório dos fundos de investimento KKR, mostram alguns resultados surpreendentes sobre o poder dos criadores de guerra.
Dezassete estados, pelo menos, incluindo o Azerbaijão, participaram na operação "Madeira Sycamore" que garantiu o transporte 28 mil toneladas de armas e Israel forneceu os para o seu falso destino final . Com toda a probabilidade, David Petraeus e o KKR foram apoiados pelo Secretário-Geral adjunto da ONU, Jeffrey Feltman. Claro que este tráfego gigantesco, sem precedentes na história pelo seu volume, não dará origem a qualquer processo judicial, nem nos Estados afetados nem no plano internacional.
Há 4 anos que os povos do Levante lutam não só contra Estados, mas acima de tudo contra um consórcio de empresas mutinationales privadas, incluindo meios de comunicação internacionais e os potências de média imensão que dão as ordens para pequenos estados fazerem o trabalho sujo.
No entanto, as dificuldades encontradas por Donald Trump para impor sua vontade sobre a CIA e o Pentágono, bem como a existência desta rede paralela, meia meio pública, meio privada, dão uma idéia da complexidade da sua missão numa ordem mundial subvertida pelos interesses privados.
Num primeiro momento, a ofensiva dos exércitos do Iraque e da Síria para restaurar a Rota da Seda não foi interrompido pelas forças não foi interrompida, apesar de vários incidentes.
A ofensiva lançada pelo Exército Árabe da Síria, com o Hezbollah e em coordenação com o Exército libanês, no Jurd de Ersal é o primeiro resultado visível da nova política de Washington. Embora criticando duramente a presença do Hezbollah, o primeiro-ministro libanês Saad Hariri, a pedido da Arábia Saudita, autorizou o Exército a participar na operação. Esta é a primeira vez que oficialmente os dois exércitos, libaneses e sírios, e a resistência actuam em conjunto. Riyadh, sem desarmar face ao Partido de Deus e ao Irão, considerou ser conveniente trabalhar com o Hezbollah e acabar, em primeiro lugar, com os jihadistas.
Em última análise, esta guerra, que deveria destruir os Estados da região, toma a direcção contrária: a unidade das forças iranianas, iraquianas, sírias e libanesas.

Thierry Meyssan
fonte Al-Watan (Síria), Tradução AA

sábado, 12 de agosto de 2017

Bom fim de semana!, por Jorge


«Ce qui est terrible sur cette terre,
c’est que tout le monde a ses raisons.»

"O que é terrível neste mundo
é que toda a gente tem as suas razões."

Jean Renoir
realizador francês, 1894-1979
no papel de Octave em La Régle du Jeu (1939)

6 e 9 de Agosto de 1945, por Jorge

A humanidade pode não sobreviver a nova loucura
e há doidos em Washington capazes de a repetir.

Hiroshima depois da bomba

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A dádiva do Dragão


Em 2009, Deborah Brautigam escreveu o livro “Dragon's Gift” (A dádiva do Dragão) em que sustenta que o relacionamento da China com África não configura qualquer espécie de neocolonialismo (1). É pena não ter havido uma tradução portuguesa.

O livro analisa o programa de ajuda da China com base numa grande diversidade de atividades de desenvolvimento patrocinadas pelo Estado chinês e que os chineses designam por "cooperação económica". O livro explica o que os chineses estão a fazer neste seu envolvimento económico patrocinado pelo Estado na África, como o fazem e por que o fazem.

Penso que é uma boa base para o conhecimento de uma situação que poderá, de forma não isenta de contradições, erradicar crescentemente a pobreza e a fome naquele continente e permitir o desenvolvimento – base essencial para a paz.
 

O que chama atenção de investigadores e teóricos é a percepção de que a Grande China acordou e tem sede de tomar uma posição hegemónica no sistema internacional. E, tudo indica que a terá. Afirma-se como a grande campeã da abertura total dos mercados. Mas importa que a prática actual se coadune com um outro tipo de globalização que saiba desenhar com os restantes países porque a globalização “capitalista” foi negativa, acentuou desigualdades nos planos nacional e internacional.

Aqui em Portugal, os comunistas rejeitam a globalização capitalista e os tratados de livre comércio como o CETA. Ela tem contribuído para a ruína da agricultura, pecuária, pescas, comércio e indústria transformadora e arrisca provocar um dumping social, impondo reduções de salários e outros direitos dos trabalhadores, uma quebra dos padrões de qualidade e de segurança alimentar e medicamentos, privatizar serviços públicos essenciais e transferir a resolução de conflitos nestas áreas para instâncias em que não teremos nenhum poder de decisão e que decidirão em benefício das grandes multinacionais.

Como o PCP tem referido, Portugal precisa de combater os seus défices, energético, alimentar, tecnológico e demográfico. Precisa de afirmar a sua soberania e resistir à guerra económica da globalização capitalista, defender o seu mercado interno e a sua produção nacional. Não para comerciar menos, mas para comerciar mais; não para fechar Portugal ao mundo, mas para desenvolver relações comerciais e de cooperação mutuamente vantajosas.

E tem referido também que este país não está condenado ao declínio e a uma posição cada vez mais subalterna na divisão internacional do trabalho, não está condenado à estagnação e ao empobrecimento. Mas para isso precisa de crescer e de se desenvolver. Precisa de investimento para promover a produção e a produtividade, a competitividade, o crescimento, o emprego e o bem-estar social e precisa de ganhar margem de manobra para afirmar o seu projecto soberano de desenvolvimento.

Os momentos mais importantes que tornaram a China num gigante dos investimentos estrangeiros do início do século XXI foram:

·         Ainda na década de 1980, quando as economias do mundo inteiro recuperavam do abalo económico e se viram privadas de crescimento, a China deu um primeiro passo para o estrangeiro. A abertura dos seus mercados nos anos 80 mais expressivamente nos anos 90 despertou na China a vontade de expandir os seus negócios, mas não apenas no âmbito da economia nacional. Ela queria novos mercados, novos fornecedores, novos investidores provenientes do estrangeiro.

Apoiada na abertura dos seus mercados, somada a outros fatores como excesso de mão- de-obra, resultado da longa reforma agrária e do êxodo rural, a China passou a dispor de custos de mão-de-obra baixíssimos o que, por sua vez, atraiu muitos investidores internacionais. O crescimento económico chinês teve, assim, o seu grande salto que conseguiu manter devido a essas grandes entradas de divisas por meio do investimento directo estrangeiro e projectos de cooperação. No meio de diversos problemas, a China conseguiu, em menos de duas décadas, tornar-se o país com a maior quantidade de moeda estrangeira, ultrapassando os EUA que são o país emissor do dólar.

·         Depois disso, a China tem um desempenho extraordinário perante a crise internacional tanto em 1970, como em 2008. Enquanto o mundo se afundava no desespero, nomeadamente as grandes economias dos EUA e da Europa, por conta de um novo esgotamento da economia mundial chamado crise financeira, a China remou contra a maré e afirmou, uma vez mais, o seu poderio econômico, indo em apoio da economia mundial.

·         Todos os factos apresentados mostram a versatilidade e a dimensão da economia chinesa perante o mundo. Mas a China com todo esse poderio e influência é obrigada a procurar parceiros no mercado internacional que não lhe tragam apenas lucros no mercado financeiro, mas principalmente no de fornecimento dos recursos naturais como o petróleo, gás natural e minérios, caso contrário não poderá dar continuidade a esse seu crescimento.

A análise aos investimentos chineses, na relação da China com a África carenciada de ajuda, revela como os recursos naturais africanos influenciam as decisões chinesas no que diz respeito às suas projeções de investimento no continente africano num futuro próximo.

Essas intenções futuras trazem consigo mudanças para a África, para a China e ainda para países desenvolvidos que se preocupam com as taxas de crescimento e desenvolvimento chinesas dos últimos anos.

Já numa reunião realizada em final de 2015 os Estados membros da União Africana (UA) e da República Popular da China no Fórum sobre Cooperação China-África, criado pelas duas partes no ano 2000, confirmou a cooperação com vantagens mútuas após a concessão em 2014 de 60 mil milhões de dólares de financiamento, incluindo 5 em assistência à concessão e empréstimos sem juros, 35 em empréstimos preferenciais e créditos de exportação em condições mais favoráveis, 5 em capital adicional para o Fundo de Desenvolvimento China-África e o Empréstimo Especial para o Desenvolvimento de PME’s africanas, e um fundo de cooperação de capacidade de produção entre a China e a África com um fundo de capital inicial de 10 mil milhões. O presidente da UA de então afirmou que a cooperação com a China, se realizaria nos domínios da modernização da agricultura, das infraestruturas, energia, e formação e treino dos jovens, o que permitiria construir os três projetos de rede que incluem estradas, caminho-de-ferro e aviação. E que isso iria contribuir para a realização do plano a cinquenta anos (2063) de desenvolvimento e unificação delineado na Cúpula da UA 2013 em Addis Abeba.

A nova visão da Nova Rota da Seda da China para a África abrange, assim, muito mais que a exploração dos recursos naturais. Na verdade, visa facilitar as capacidades comerciais do continente em servir como mercado de trabalho e de exportação para o excesso de capacidade da China. Salienta que os países africanos só podem estar em condições de comprar produtos chineses em excesso se eles mesmos tiverem uma economia estável e em crescimento, o que é impossível de manter sob um sistema centrado na exportação de energia. E que o valor estratégico dos investimentos chineses em Angola e nos outros países das regiões Sul-Central, Leste e Corno de África está na ligação aos novos corredores transnacionais de transporte multipolares que Pequim está a financiar e a construir em todo o continente. O papel de Angola nessa construção ambiciosa é funcionar como o terminal do Atlântico Sul, através do caminho-de-ferro de Benguela, da era colonial, que a China reabilitou há pouco tempo.

Após a sua (re) inauguração, Angola tem agora o potencial de se juntar o seu porto atlântico do Lobito à região rica em minerais da República Democrática do Congo (RDC), bem como à Cintura do Cobre da Zâmbia . Além disso, a construção do caminho-de-ferro do Noroeste no último estado sem litoral ligaria directamente Lusaka ao Lobito e, num contexto ainda mais amplo, proporcionaria uma alternativa mais segura aos riscos de conflitos no Congo ao ligar Angola com a Tanzânia, ou seja, ao unir as costas de África no Oceano Atlântico e no Oceano Índico. No caso de uma interligação de transporte comercialmente viável poder ser criada entre a Tanzânia e o Quénia, seria então potencialmente importante para a Tanzânia estabelecer uma rota comercial continental com a Etiópia através do corredor LAPSSET (2). E em seguida isso permitiria que duas das maiores economias do continente, a África do Sul e Angola conduzissem o comércio terrestre a que acresceriam na Etiópia estados de trânsito estáveis da Comunidade da África Oriental (EAC) da Tanzânia e do Quénia.

Actualmente o Egipto e a Etiópia são os países que têm mais megaprojetos com a China.

O governo do Egipto aceitou as consequências sociais negativas decorrentes de “apoios” do FMI e teve que enfrentar a luta dos trabalhadores. Trabalha simultaneamente na área de criação de empregos em mega projetos, com a participação da China, como a duplicação do Canal de Suez, a construção do sistema rodoviário nacional, os túneis sob o Canal de Suez, e o novo projeto agrícola, na nova capital administrativa e as zonas industriais da região do Canal de Suez.

Arkeby Oqubay, coordenador interministerial do Gabinete do Primeiro Ministro da Etiópia, disse que o investimento directo estrangeiro estava a criar milhões de empregos no sector de manufatura, mas precisava haver mais áreas de desenvolvimento industrial. Para ele, "Um dos objetivos da Etiópia é liderar o caminho para que a África se torne a fábrica do mundo". Na zona industrial oriental da Etiópia, a fábrica Huajian produz carros que saem da linha de produção da Yangfan Motors, fabricante de automóveis chinesa, e a Di Yuan Ceramics, outra empresa chinesa, produz aí azulejos

A Huajian atualmente emprega 6 mil trabalhadores, mas deve aumentar para 40 mil dentro de cinco anos, quando o Parque Industrial Huajian Light Ethano-China de mil milhões de dólares estiver concluído noutra área da cidade. Huajian já faz sapatos para algumas das principais marcas mundiais na Etiópia, incluindo a Coach e Versace, para além de abastecer o restante mercado interno.

Outros casos de dezenas de países poderiam aqui ser referidos como casos de parcerias com a China (podem ser consultados os balanços que a UNCTAD das Nações Unidas publica anualmente).

Outros casos de dezenas de países poderiam aqui ser referidos como casos de parcerias com a China (podem ser consultados os balanços que a UNCTAD das Nações Unidas publica anualmente por cada país).

Na última década o investimento chinês no continente africano cresceu notavelmente, sendo motivo de algumas críticas por estudiosos e pessoas de esquerda em todo o mundo como de preocupações por parte governos capitalistas que questionam o que levou a China a investir pesadamente na África. A procura de recursos para responder às suas necessidades internas é a razão mas os chineses afirmam que é feita de acordo com os princípios chineses, com os investimentos no continente africano a serem pautados pelas vantagens mútuas de ambas as partes, contribuindo para o respectivo desenvolvimento económico. A China faz também empréstimos, perdoa dívidas, desenvolve formas muito diversas de cooperação bilateral.

 

É uma atitude bem diferente da dos norte-americanos e europeus. A China não exporta pobreza, pois investe e financia setores produtivos na África, e também não tenta impor ou vender nenhum tipo de ideologia, como fizeram os americanos e europeus quando colonizaram os países africanos nos séculos passados.

A China não só teve até agora êxito nas suas estratégias e programas de redução da pobreza interna até agora, como assumiu o compromisso de libertar da pobreza até 2020 todos os restantes cerca de 70 milhões de cidadãos chineses ainda pobres.

A generalidade dos governantes africanos apreciam o compromisso da China de trabalhar com 1,2 mil milhões de africanos no desenvolvimento conjunto, promover a integração econômica e construir uma comunidade conjunta com um futuro livre de pobreza. Em África, confia-se que essa parceria imprima rapidez às transformações socioeconómicas.

A China expressou em muitas ocasiões o seu compromisso com a África com uma abordagem prática diversificada e modelos de desenvolvimento com flexibilidade, oferecendo tecnologias e investimentos sem quaisquer condições.

Mas nas relações com países africanos os seus empresários e mesmo académicos com longa experiência de trabalho em África pretendem alterar negativamente a legislação de trabalho aí existente. E argumentam que consideram ser direitos construídos, não na base do crescimento económico mas em hábitos e padrões de vida importados de metrópoles capitalistas, argumentando que é uma “ideologia de ricos” quando muitos países africanos são pobres e têm que sair dessa situação que lhes foi criada pelos que os exploraram e usaram como consumidores, sem deixarem os instrumentos para eles próprios promoverem o seu crescimento económico (3). Trata-se de um paralelismo esquemático com a acumulação do capital como foi feito na China, associado à intenção de um quadro de exploração do trabalho que suscitará naturais e legítimas reacções sindicais.

As potências, hoje mais débeis (EUA e UE, ou dentro desta particularmente a Alemanha e a França ou a Inglaterra em processo de saída), insistem em falar em surdina num novo processo de colonialismo e de exploração de recursos naturais, em que os países africanos seriam enganados com financiamentos em estradas, expansão e restauração das malhas ferroviárias ligando o interior aos grandes portos para o escoamento de suas matérias-primas. E afirmam que a China explora os sectores que mais lhe interessam, garantindo contratos de prestação de serviços africanos, de acesso aos recursos naturais e o direito de explorar determinadas áreas devido a sua capacidade de “perdoar” dívidas a troco de longos contratos, o que geraria a dependência do continente africano para com a China. E referem-se, em particular, aos casos da Nigéria, e, principalmente, em Moçambique.

Porém essa é uma questão que se coloca sempre a qualquer país que procure o investimento estrangeiro. Tem havido muitos casos em que a China realiza projetos de infraestruturas em África usando os seus próprios cidadãos, e não a população local. Assim, nalguns casos, para os africanos não são criados novos empregos. A China hoje exporta técnicos associados a vários destes seus projectos mas ela terá que programar com as autoridades locais a formação crescente de mão-de-obra menos qualificada africana na construção destes projectos e, posteriormente na sua manutenção.

Temos duas visões ou um paradoxo nestes investimentos em que, por um lado, os países africanos beneficiam dos investimentos, melhoram as suas estruturas físicas e económicas, têm os seus índices de educação e formação elevados, apresentam um desenvolvimento a taxas positivas e acreditam que as parcerias chinesas são benéficas para o crescimento geral do continente. Porém, por outro, lado, os críticos ocidentais sublinham que os investimentos que a China tem feito recorrem à isenção de débitos através de cobranças em recursos naturais que, ao longo dos anos, causarão um esgotamento das matérias-primas africanas, e o afunilamento e dependência africana e o seu afastamento no relacionamento económico com os restantes países.

Para os mais críticos da política chinesa, seguindo as tendências dos investimentos chineses no continente africano poder-se-iam notar três possíveis passos que já estariam em vigor nas políticas de cooperação chinesas:

·         A expansão das Zonas de Economias Especiais que se formam em torno de recursos naturais mais atraentes para a China, como petróleo e minérios;

·         A expansão das operações de crédito, para que mais países possam beneficiar do investimento chinês;

·         E a difusão do modelo de Angola que nada mais seria que a troca do pagamento dos empréstimos pela concessão da exploração de recursos naturais ou mesmo contratos de pagamentos em matérias-primas por longos anos.

Mas, o que é verdade é que a intervenção chinesa no continente africano mudou as concepções dos próprios africanos em negociar com os demais países, principalmente com os EUA e UE, os quais terão que alterar as suas políticas de abordagem e interesses caso queiram investir no continente.  

A China alcançou mercados africanos e tornou-se forte mesmo longe de casa. Assim, a concorrência entre produtos chineses e produtos estrangeiros tem diminuído em território africano, o que permite à China maior poder de troca e maior estabilidade nos investimentos.

Os estudos feitos às relações sino-africanas revelam que são relações de cooperação internacional que, embora contenham casos isolados de semelhanças neocolonialistas, que acabam por desfavorecer o continente africano em alguns aspectos, de uma maneira mais macro, acabam por trazer benefícios para ambas as regiões, mesmo que esses benefícios não sejam proporcionais. Tanto a China como os países africanos têm alcançado taxas superiores de desenvolvimento sem precedentes, reforçando a ideia da cooperação internacional (4)

 A China não entrou na corrida da hegemonia mundial para perder e o Dragão não se move pela dádiva. Mas está a fazer com que essa hegemonia possa coexistir com um crescente número de polos de crescimento mundiais, a que estariam associados, por isso, outros tantos polos de desenvolvimento estratégico e efectivo poder político, no respeito do direito inalienável da soberania de cada país e do ambiente e na manutenção da paz, recusando a lógica da corrida aos armamentos pressionada pelos interesses das indústrias de armamentos.

 

(1)    Deborah Brautig, Dragon'S Gift - The Real Story of China in Africa, 2009, Oxford University Press.

(2)     O projeto de transporte Port Lamu - Sudão do Sul - Etiópia (LAPSSET), também conhecido como o corredor Lamu, é um projeto de transporte e infraestruturas no Quénia que, quando completo, será o segundo corredor de transportes do país. O outro corredor de transportes do Quénia é o corredor de transporte Mombasa-Uganda que passa por Nairobi e grande parte do Rift do Norte.

(3)    Li Xiaoyun, “Industrialization key to poverty reduction in Africa”, ChinaDaily/European weekly, 14-20 de Julho de 2017.

(4)    Ansham, Li. China’s New Policy toward Africa. In: ROTBERG, Robert (Ed.). China into Africa, Trade, Aid and Influence. Washington, DC: Brookings Institutions Press, 2008.